segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Importação responde por 22% do consumo no país e bate recorde

De acordo com dados divulgados nesta segunda-feira pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o chamado Coeficiente de Importações (CI) --que mede a parcela dos produtos vindos do exterior no consumo-- fechou o ano passado em 21,8%, o maior nível da história.

O número corresponde a um crescimento de 3,5 pontos percentuais ante o número de 2009.

Já o Coeficiente de Exportações, que mede quanto da produção nacional foi enviada ao exterior no ano passado, teve leve alta em 2010, chegando a 18,9%. O valor ainda é menor que o registrado em 2008, de 19,6%.

Segundo a Fiesp, além do forte crescimento da demanda doméstica no ano passado, o real valorizado e os benefícios fiscais concedidos por alguns Estados para bens importados foram os principais responsáveis pelo aumento das compras externas no país.

Os dados mostram que, do crescimento de 14,2% no consumo dos brasileiros em 2010, 46,8% foi suprida pelas importações.

Desde o ano passado, a indústria brasileira vem se queixando de que, com o real muito valorizado, o consumo de produtos nacionais tem sido substituído por bens importados, que ficaram mais baratos.

Por causa disso, alguns empresários e especialistas já falam inclusive em um processo de desindustrialização no país, caso a taxa de câmbio não suba. O governo vem adotando medidas para elevar a cotação do real frente ao dólar, mas, por enquanto, apenas conseguiu conter a queda da moeda norte-americana.

Os dados divulgados hoje apontam que, entre os 33 setores pesquisados, 30 tiveram aumento no CI no ano passado --muitos deles também atingindo percentual recorde. Entre eles, destaque para o grande crescimento nas importações da siderurgia, cujo índice passou de 9,3% em 2009 para 16,9% no ano passado.

"A siderurgia merece atenção especial. Se continuar crescendo desse jeito, precisaremos de uma medida de salvaguarda para proteger o setor. Porque as importações prejudicam a continuidade dos investimentos na área", afirmou Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Derex (Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior) da Fiesp.

Na outra ponta, apenas 13 setores tiveram crescimento nas exportações em 2010. Segundo a Fiesp, a alta no CE da indústria no ano se deveu basicamente ao aumento das vendas externas das indústrias extrativas, que passou de 67,4% para 75,3%.

Além disso, a retomada do crescimento em alguns países que são parceiros comerciais do país permitiu uma elevação das exportações em setores como o automotivo (que exportou 13,4% de sua produção no ano passado).

DEFICIT

"Estamos sofrendo de uma doença externa que é a sobrevalorização cambial. E os produtos que mais sofrem são aqueles que utilizam mais mão de obra e mais componentes nacionais", disse Giannetti da Fonseca.

Os dados da Fiesp mostram que, considerando apenas os produtos manufaturados, houve aumento de 45% nas importações no ano passado, contra alta de 18% nas exportações. O deficit comercial da balança de manufaturas chegou a US$ 71 bilhões em 2010.

Para este ano, o diretor da Fiesp prevê que as vendas externas de manufaturados devem se manter praticamente estáveis, com crescimento entre zero e 5%. Para as compras externas, a previsão é de 15%.

"A economia brasileira vai crescer 4,5% este ano, e isso vai fazer as importações crescerem quase até o triplo deste número. Então eu diria que nós podemos prever uns 15% de crescimento das importações em 2011".

Para a balança comercial do país, Giannetti da Fonseca espera redução, pela metade, do saldo positivo em 2011, para cerca de US$ 10 bilhões. Em 2012, segundo ele, o Brasil já terá deficit comercial.

O diretor defendeu ainda uma taxa de câmbio entre R$ 2 e R$ 2,20 por dólar, o que, segundo ele, seria um patamar de "equilíbrio", que aumentaria as exportações, geraria mais empregos e não elevaria em excesso a inflação no país. Folha Online