sábado, 19 de março de 2011

Aula sobre agronegócio cria polêmica em Ribeirão Preto

Aulas sobre o agronegócio nas escolas municipais de Ribeirão Preto têm gerado polêmica entre professores e especialistas.

O assunto foi parar no Conselho Municipal de Educação, que pediu uma cópia de cada projeto pedagógico externo desenvolvido nas escolas para ser analisado.

O que mais gerou discussão foi o projeto "Agronegócio na Escola", desenvolvido com a Abag-RP (Associação Brasileira do Agronegócio de Ribeirão Preto).

O programa atende alunos do 8º e do 9º ano desde 2009 --antes, foi aplicado por dez anos na rede estadual. Cerca de 112 mil estudantes da região já passaram pelo curso.

No lançamento do projeto, em 2009, a prefeita Dárcy Vera (DEM) chegou a dizer que "na terra da Agrishow e capital mundial do etanol" não poderia ser deixada de fora da escola "esta disciplina tão importante".

Para a conselheira Adriana de Bortoli Gentil, é errado o enfoque apenas pelo lado positivo do agronegócio.

"Você não mostra a questão fundiária, de concentração de terras, não mostra essa perspectiva histórica".

Na opinião da conselheira Ana Paula Soares da Silva, os alunos devem conhecer também outros modelos de agricultura, como a agroecologia ou a agroflorestal.

"Quando a prefeitura adota isso e coloca como um grande programa, é complicado, principalmente porque é educação pública".

CARTILHA

A Abag-RP oferece cartilhas às crianças e um vídeo, que é utilizado por professores nas aulas. O material está no site da Abag.

A cartilha aborda temas como o surgimento da agricultura e sua modernização.

Há trechos polêmicos, como o meio ambiente. Dois personagens conversam sobre o tema, e dizem que as leis ambientais são respeitadas no Brasil Professores são levados para conhecer usinas e são capacitados pela entidade. Os alunos também participam de concurso de redações com temas definidos pela Abag-RP --como "Agronegócio e Meio Ambiente".

A Secretaria da Educação e a Abag-RP defendem que o conteúdo aborda um tema importante na vida da região).

Coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Maria Márcia Sigrist Malavasi diz que temas sociais e econômicos são importantes, "mas é sempre delicado, porque pode ter uma ideologia que deturpe um pouco a realidade".

Mais do que o material, o principal é que o professor esteja bem formado. "Posso dar o material na mão de um professor não bem formado e ele pode fazer um estrago, tanto defendendo o grande pecuarista como defendendo as invasões de terra". Folha Online