A popularidade do MMA (Artes Marciais Mistas) chegou às ruas de São Paulo. Com material reutilizado, um octógono (arena utilizada na prática da modalidade de combate) está sendo construído sob o viaduto Alcântara Machado --na zona leste da capital.
A arena de nove metros de diâmetro é idealizada e construída pelo ex-pugilista Nilson Garrido, 54, e dividirá o espaço com dois ringues de boxe, aparelhos improvisados de ginástica e uma biblioteca.
A ideia, segundo Garrido, surgiu após muitos frequentadores do projeto mostrarem interesse pelo MMA. "Eles queriam praticar no meu ringue de boxe e assim não dá. Essa luta precisa de mais espaço e proteção diferenciada", diz o ex-pugilista.
Os lados do octógono foram estruturados com oito barras de ferro galvanizado, doadas pela sub-prefeitura da Mooca. O piso --que ainda receberá tatame e lona-- cimentado com pedra e areia oferecidas por um empresário local.
Com 70% da arena pronta, Garrido diz ter investido até o momento R$ 20 na construção. "Com esse dinheiro comprei eletrodos para a máquina de soldar. O resto veio de doações", contou.
Para cortar os ferros nos tamanhos necessários, o ex-pugilista se valeu de um vizinho serralheiro. O próprio Garrido soldou as barras, com um máquina consertada para o início da obra há cerca de três meses.
Depois de pronto, o octógono também segundo Garrido-- servirá na promoção do MMA para quem não tem condições de praticá-lo. A arena também deverá ser alugada para lutadores habituados ao esporte.
"Vamos repassar a verba arrecadada para aqueles que não têm dinheiro. Esse esporte é um pouco caro, por conta da alimentação específica que os atletas precisam adotar", afirmou Garrido.
Sérgio Baratelli, presidente da Confederação Brasileira de Lutas Vale-Tudo, desconhecia a iniciativa --mas acredita que projetos como esse podem revelar talentos no esporte.
"Bem administrado, esse lugar pode ser um celeiro de grande lutadores. O Anderson Silva e o Wanderlei Silva [campeões no UFC (Ultimate Fighting Championship), evento de maior projeção do MMA], por exemplo, nasceram em famílias que não tinham muito dinheiro", disse Baratelli.
Apesar do sucesso do MMA, Baratelli vê riscos no crescimento desenfreado da modalidade.
"Fico preocupado com quem quer explorar o 'boom' do MMA só para ganhar dinheiro. Precisa de gente capacitada, inclusive para aplicar os treinamentos", disse o presidente da confederação.
A previsão inicial era de que o octógono fosse inaugurado em março, mas a data acabou adiada por falta de materiais como a tela de proteção. A primeira luta será disputada por conhecidos de Garrido que já treinam MMA.
CRESCIMENTO DO MMA
A Confederação Brasileira de Lutas Vale-Tudo não tem números oficiais de octógonos no país, mas Baratelli garante que a modalidade é uma das que mais crescem.
"Muitas academias aqui em São Paulo já têm octógonos. O MMA já está chegando próximo do número de praticantes do judô", disse Baratelli.
A CBJ (Confederação Brasileira de Judô) estima que 2,5 milhões de pessoas, incluindo não federados, pratiquem judô no país e que o esporte fique atrás apenas do futebol e da corrida de rua na quantidade de adeptos.
A RedeTV!, única emissora aberta do Brasil a transmitir eventos de MMA, diz ter investido na modalidade de combate por conta de seu "sucesso mundo afora" e "da quantidade de brasileiros vitoriosos no UFC".
"O público [do MMA] jovem é muito alto e está acostumado com dinamismo, agilidade, e ao que chamamos de 'tudo ao mesmo tempo agora'. Isto é o MMA, todas artes juntas", diz Terence Paiva --diretor de esportes da emissora.
O programa 'UFC Sem Limites', que entrou na grade da RedeTV! em junho de 2009, substituiu o seriado Dallas nas noites de sábado e, segundo dados do Ibope repassados pela emissora, dobrou a audiência do horário já no primeiro mês de exibição.
"Hoje o UFC Sem Limites passa por sua melhor performance de audiência. Em Fevereiro de 2011, fechou com a média de 10% de share [percentual de domicílios sintonizados em determinada emissora em relação aos domicílios com televisores ligados no mesmo período] na Grande São Paulo", afirma Paiva. Folha Online