"Preferiria não". Com essa frase, o escriturário Bartleby celebrizou-se como um resistente muito particular da história da literatura.
As excentricidades do protagonista do conto "Bartleby, O Escriturário", de Herman Melville (1819-1891), inspiraram Denise Stoklos, 60, na criação de seu 27º espetáculo, "Preferiria Não?", que apresenta hoje no Festival de Curitiba.
Folha - Por que "Bartleby"?
Denise Stoklos - Melville nos traz a percepção de nossa pequenez. Depois de ler, não dá para você voltar atrás e mediocrizar a existência.
Qual o conceito da peça?
A simplicidade. Já escrevi num manifesto que espero um dia fazer um teatro em que não mexa nada, não fale nada e ainda seja teatro. Entro como um instrumento do nosso tempo, que navega numa imensidão de neuroses.
Seu Bartleby tem quais neuroses?
Todas. Elas vêm da nossa pequenez face à grandiosidade que nós poderíamos atingir se não tivéssemos medo.
Seus processos de criação são longos. Por quê?
É preciso perder a cerimônia com o texto. Comecei a trabalhar o "Bartleby" há três anos. E essa peça foi uma das que demorou menos tempo.
Você viu a montagem de "Bartleby" com Cácia Goulart, há alguns anos?
Soube que era ótima. Nós precisamos de muitos Bartlebys. E um bom teatro é como uma boa música. Você ouve muitas vezes.
Seu teatro é político?
Qualquer expressão artística é política. A sociedade se desloca para refletir sobre sua natureza humana quando vai ao teatro.
Você é um Bartleby?
Quem me dera. Com o passar do tempo, a gente finalmente se aproxima do tal "estou nem aí" que é o cúmulo da maturidade. Isso só se adquire com vivência. E felizmente o tempo começa a ser considerado patrimônio. Antes era velhice.
A jornalista GABRIELA MELLÃO viajou a convite do Festival de Curitiba | Folha Online