O ingresso diz que o jogo começa às 19h30. E o relógio, que já são 19h25. Cinco minutos que precisam ser suficientes para deixar o quarto do hotel no 20º andar, atravessar o lobby, a praça em frente, uma rua e outra praça.
Parece mentira, mas, às 19h30, o ingresso é dado ao segurança na entrada VIP do ginásio. Uma escada rolante e um corredor depois, o bilhete também abre a porta do camarote. Em quadra, os Lakers, maior time da NBA, ainda estão no aquecimento.
Ginásio é descrição imprópria para o Staples Center, principal atração de um complexo que ainda reúne hotéis, escritórios, teatros, clubes, bares e restaurantes.
Investimento de US$ 2,5 bilhões em pouco mais de dez anos numa área degradada do centro de Los Angeles.
Hoje em dia, o LA Live, como é chamado o complexo, recebe um fluxo de 50 mil pessoas atrás de diversão numa noite razoável. Esporte é o carro-chefe, mas não o único.
E o dono disso tudo acha que é possível fazer algo semelhante em São Lourenço da Mata, subúrbio pobre de Recife que abrigará uma das 12 sedes da Copa de 2014.
Seu nome é AEG ou Anschutz Entertainment Group, maior proprietário de equipes e eventos esportivos do mundo, também das arenas mais lucrativas do planeta e o segundo no ranking de negócios de shows e concertos.
Uma daquelas empresas que, previu-se, desembarcaria no Brasil por conta da Copa e da Olimpíada. No caso, a convite da Odebrecht, construtora do estádio pernambucano e de outras três arenas do Mundial -Fonte Nova, Maracanã e do corintiano e controverso Itaquerão.
NEGÓCIO NOVO
"Depois do carro e da casa própria, o próximo desejo do brasileiro é o entretenimento", sintetiza Fernando Jens, da OPI (Odebrecht Participações e Investimentos), braço da construtora baiana que prospecta novos negócios.
Entretenimento de fato é um novo negócio no Brasil.
Se sobram atrações internacionais no país neste momento, faltam espaços, tecnologia e expertise. "Temos amplas condições de repetir em Recife o que fizemos em Los Angeles", diz Bob Newman, da AEG Facilities, a parte que cuida de estádios e arenas -são, no total, 50 divisões, ainda que a empresa se considere "familiar".
O executivo, apesar de soar retórico, refere-se ao modelo de empreendimento planejado em São Lourenço da Mata. Em uma área pública de 250 hectares, o estádio será o catalisador da Cidade da Copa. No papel, são 9.000 unidades residenciais, escritórios e equipamentos -hospital, shopping, escola etc.
A receita é simples: o estádio atrai gente e gente atrai negócios, que atraem mais gente, que justificam o estádio. "O bom desse modelo é que não temos amarras. Se depois do estádio percebermos que, no lugar de construir um shopping, é melhor erguer uma universidade, é só alterar a rota", afirma Frederico Campos, da OPI.
A receita foi seguida em Los Angeles. O poder público trocou terrenos e incentivos com a AEG, que se comprometeu a criar um complexo que revitalizasse a área.
O primeiro passo foi o Staples Center, que recebe 250 eventos e 4 milhões de visitantes por ano desde o final dos anos 1990. O último, em 2010, a construção de um complexo hoteleiro encabeçado pela grife Ritz-Carlton, negócio de US$ 1 bilhão em ambiente de crise nos EUA.
"Claro, há muitas diferenças entre Los Angeles e Recife. Mas a maior delas é que Pernambuco cresce a dois dígitos por ano", diz Newman. Folha Online