domingo, 10 de abril de 2011

Médicos recusam salário de R$ 20 mil no Norte de Minas

Norte de minas. A distância dos grandes centros urbanos e a dificuldade de acesso têm espantado os médicos do Norte de Minas. Prefeituras da região estão enfrentando muitos obstáculos na tentativa de preencher as vagas, o que põe em risco a saúde da população. Nem mesmo salários que chegam a R$ 20 mil têm sido o suficiente para atrair profissionais.

A remuneração corresponde a jornadas de 40 horas semanais no Programa de Saúde da Família (PSF) e aos plantões, cujos rendimentos variam de acordo com a cidade. Na capital, o PSF paga R$ 7.192,00 para iniciantes - o valor pago pelos plantões depende da especialidade.

A resistência demonstrada até mesmo por recém-formados leva as cidades a promoverem verdadeiros "leilões" - algumas chegam a oferecer benefícios como moradia e alimentação. 

Ainda assim, a pequena quantidade e a alta rotatividade de profissionais seguem sem solução.

Em Montalvânia, a comunidade foi atendida por pelo menos dez médicos diferentes nos últimos seis anos. A alguns quilômetros dali, em Manga, há vagas em aberto há mais de seis meses. 

O resultado é a sobrecarga no sistema. O médico assume demandas de cidades vizinhas, e o paciente, que deveria ser assistido na atenção básica, lota as unidades de pronto-atendimento. Em Jaíba, por exemplo, sete das 12 equipes do PSF estão desfalcadas.

"Com menos médicos, as filas são maiores e a assistência fica prejudicada. Oferecemos moradia, fazemos anúncios, mas não adianta", lamenta a secretária de Saúde da cidade, Anny Queiroz. Sem sucesso na rede pública, o comerciante Eurico de Souza, 56, buscou uma clínica particular. "A dificuldade é geral. Estou aqui há uma hora, e isso porque estou pagando para ser atendido".

Em Itacarambi, a última médica chegou há apenas 15 dias. Paciente diabética, a doméstica Senhorinha Bezerra, 54, precisou ir ao hospital, pois não há profissionais no posto de saúde da comunidade rural em que ela mora. "Precisam me buscar lá", ressalta.

A sobrecarga se repete em Montalvânia. "Temos três médicos e precisamos de mais três. A ocupação no hospital dobrou, e pelo menos 20% dos leitos estão preenchidos", diz o secretário de Saúde, José Afonso Filogônio.

Acesso. Algumas cidades da região estão praticamente isoladas. Para chegar a Manga e a cidades mais ao norte, é preciso pegar uma balsa ou enfrentar longas estradas de terra em péssimas condições. Até Montalvânia, um trecho de 64 km chega a ser percorrido em quatro horas, pois a rodovia passa por obras. O Tempo Online