quarta-feira, 11 de maio de 2011

Garotos de Nova York resgatam Smiths em novo álbum

"No escuro do meu quarto eu vejo você brilhar/ Você não precisa pedir duas vezes, porque eu já concordei".

Escrita, parece uma letra do Morrissey em 1983, no comecinho dos Smiths. O mundo visto do quarto de um adolescente sensível, que não acha seu lugar na vida e sonha com loucas paixões.

Quando se escuta, a guitarra soa como Robert Smith tocando em 1986, no auge do The Cure. Som de moleque, que faz rock como se sua vida dependesse disso.

Os versos são de "Heart in Your Heartbreak", uma faixa perturbadora de "Belong", o segundo álbum do grupo The Pains of Being Pure at Heart. Encontrar um nome mais Smiths é impossível. As dores de ser puro de coração.

"Tirei de um livro infantil de um amigo meu que ainda não foi publicado", conta o guitarrista e vocalista Kip Berman enquanto toma um suco após o empolgante show no Coachella Festival, em abril, na Califórnia.

"Belong", que pode ser comprado na amazon.com, é mais uma etapa no caminho ao estrelato. Começou com um EP que leva o nome da banda, em 2007. Dois anos depois, o primeiro álbum, também homônimo, ganhou fama na internet.

Ainda sem uma grande gravadora (estão na Slumberland), os garotos que têm em média 24 anos adotaram esquema de gente grande para "Belong". O produtor é Alan Moulder, do melhor álbum feito pelo Smashing Pumpkins, "Mellon Collie and the Infinite Sadness".

A referência maior é mesmo Smiths. Kip Berman é capaz de letras contundentes, como "A Teenager in Love".

Com sua cara de menino tímido e bonzinho, ele dispara versos como "Você não precisa de um amigo quando é um adolescente apaixonado por Cristo e heroína".

David Letterman recebeu o quinteto em seu programa e a banda emendou dois grandes festivais seguidos, o South By Southwest, em Austin (Texas), e Coachella.

Quando aparecem no palco e começam a tocar tímidos, olhando para o chão, a plateia acha que verá um show de rock fofinho. Mas aí a fúria vem com tudo, como se fosse Belle and Sebastian de macho, com testosterona.

A tecladista "chinesinha" Peggy Wang assume o lado engraçadinho da banda. "Pensei que o Coachella era apenas um monte de tendas de house com meninas de biquíni", disse à Folha. "É isso mesmo, mas tem shows bem legais, como o nosso!".

"Noise pop" ganha a rápida eleição entre os membros da banda para definir seu som. "É barulhento e é pop", resume Berman. Para ele, é surreal tocar em festivais.

"O Suede tocou depois da gente, pisando no mesmo palco", com brilho nos olhos infantis. "Ainda é só o começo, queremos tocar a vida toda. Vamos com calma". FOLHA