O combate ao tráfico de drogas no Distrito Federal tem concentrado as atenções do governo. Na capital e nas regiões administrativas, existem pelo menos 64 pontos de venda e de consumo de entorpecentes, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública. Com a chegada do óxi, substância mais devastadora que o crack, as autoridades de várias áreas do Executivo local começam a se mobilizar para enfrentar o novo mal. Os efeitos no organismo, a penetração nas ruas, o preço e as estratégias de contenção da entrada do entorpecente no DF foram tema de uma reportagem publicada pelo Correio na edição do último domingo.
De acordo com o subsecretário de Operações da Secretaria de Segurança Pública, coronel Joziel de Melo Freire, o óxi faz parte dos debates das equipes que atuam no combate ao problema. Para ele, os órgãos que trabalham na repressão às drogas não encontrarão grandes dificuldades ao lidar com a nova droga devido ao perfil do usuário, muito semelhante ao do dependente do crack. “Qualquer tipo de nova substância que esteja sendo consumido causa alerta e preocupação, mas, como temos enfrentado o crack de maneira bastante intensa, isso vai dar respaldo e conhecimento para atacar o óxi”, ressaltou.
O subsecretário lembrou que o planejamento para diminuir a circulação de drogas no DF, incluindo o óxi, é sustentado em três pilares: prender os traficantes, encaminhar o usuário para tratamento e trabalhar os valores da família do usuário. “Esse ano, já executamos duas operações que envolveram vários órgãos e conseguimos colocar atrás das grades 18 traficantes. Além disso, encaminhamos quatro usuários para tratamento e restituímos às famílias vários menores, inclusive um deles dado como desaparecido”, contou o coronel. Uma das ações ocorreu em Ceilândia na semana passada.
Sem preparo
A chegada do óxi trouxe preocupação ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). O promotor da 7ª Promotoria de Entorpecentes do DF José Theodoro Corrêa acredita que o DF não está preparado para enfrentar uma eventual epidemia de mortes causadas pela composição mortal da pasta base de cocaína com cal virgem, querosene ou gasolina. “A criação da Subsecretaria de Combate às Drogas foi um avanço significativo. No entanto, falta muita coisa, não só em Brasília, mas em todo o Brasil. Nenhum estado está preparado para lidar com os efeitos de uma droga tão devastadora”, afirmou.
Corrêa lembrou o papel repressor da instituição, mas ressaltou os trabalhos realizados no sentido de evitar que jovens se viciem. “Temos feitos intervenções nos governos local e federal para melhorar o modelo no DF. Em 1995, em conjunto com o Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT), sugerimos a criação do Setor de Atendimento Psicossocial, que funciona dentro do próprio órgão. Lá, são feitos atendimentos aos usuários de drogas flagrados pela polícia”.
O secretário de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do DF, Alírio Neto, concorda com o promotor quanto à falta de preparo do Brasil para lidar com as drogas, mas avalia que o DF avança no tema. “O Brasil não está pronto, mas o DF está crescendo. Temos um pré-projeto de enfrentamento às drogas, que vai incluir 15 secretarias de governo. Dentro desse plano, temos projetos futuros e alguns em andamento, como a implantação de novos Caps (Centro de Atendimento Psicossocial), ampliação da rede de redução de danos, credenciamento das comunidades terapêuticas, além do projeto Viva a vida, droga comigo não rola que deve atingir mais de 100 mil jovens das escolas públicas e privadas”, disse.
Nova droga
Mais letal que o crack
Composição
Pasta base de coca, cal virgem, querosene ou gasolina.
Preço
R$2 em outros estados. No DF, traficantes vendem a pedra ao preço do crack, entre R$ 5 e R$ 10
Efeitos
Aumento da pressão arterial, risco de infarto e derrame. Pode causar perda da memória e alucinações.
Letalidade
Três vezes mais forte que o crack. Pesquisa feita com 100 usuários no Acre constatou que um terço deles morreu antes de completar um ano de uso reiterado. CORREIO BRAZILIENSE