sexta-feira, 3 de junho de 2011

Casal ainda chora morte da filha e cobra a prisão de motorista em Joinville

Não bastasse a dor de perder uma filha, ainda é preciso lidar com a indignação e a revolta. Os pais de Arai Cristina de Freitas, 21 anos, não se conformam que o motorista que a atropelou e a matou, no último domingo, está em liberdade. Conforme testemunhas, o homem, de 36 anos, estaria dirigindo em alta velocidade. O acidente aconteceu perto de uma danceteria, no Itaum.

Desde a morte de Arai, os pais Noel Rafael de Freitas, 45 anos, e Marta Subtil Ribeiro, 39, não conseguem mais dormir em casa, no Petrópolis. A tristeza tomou conta dos dois e as lembranças da filha alegre e sorridente, por alguns momentos, os incomoda.

— Dói saber que ela não está mais aqui. Não consigo mais entrar na minha própria casa —, diz Marta. 

Ela, o marido e a filha de 19 anos estão dormindo na casa da filha mais velha, de 22 anos, no mesmo bairro.

Nesta quinta, os pais encararam a dor e voltaram ao local das últimas lembranças que têm de Arai. Foi impossível controlar o choro. 

— Para onde eu olho eu a vejo. Para construir essa casa aqui... Meu Deus! Não tem um grão de areia que Arai não tenha tocado. Foi ela quem colocou o piso no quarto onde dormia. Esse piso aqui —, desabafou o pai.

Arai era o pilar da família. Trabalhava desde os 15 anos e chegou a trancar a faculdade de matemática para ajudar a cuidar da casa e dos pais. Ajudava com as contas, levava os pais ao médico, arrumava a casa. Agora, Noel e Marta estão sem chão. 

— Ela era o nosso alicerce e agora desmoronou tudo —, disse o pai. 

Ele e a mulher sabem que nada vai trazer a filha de volta, mas o que traria, pelo menos, um pouco de conforto para eles seria a prisão do motorista que a atropelou. 

— Ele pagou fiança e foi solto. Pode voltar a fazer isso e eu não quero que nenhuma outra mãe sinta essa dor que estou passando. A nossa família está destruída por causa da negligência de um bêbado. Não quero vingança, mas quero que ele pague pelo que fez.

Sábado, comunidade fará passeata

Inconformadas pelo fato de o motorista que atropelou Arai ter sido liberado, a comunidade do Petrópolis está se mobilizando para fazer uma passeata e pedir punição para o condutor. Pais, amigos e colegas da vítima, morta aos 21 anos, sairão de camisetas e faixas no sábado de manhã pelas ruas do bairro.

O ponto final da passeata será onde houve o atropelamento, na Rua Monsenhor Gercino, no Itaum. 

— Mesmo com toda a dor que estou sentido, acredito na Justiça —, comenta Noel. 

Ele conta que mora há 20 anos no Petrópolis e a filha Arai se criou no bairro. 

— Ela vivia rodeada de amigos. Temos uma irmandade aqui.

Segundo a PM, o motorista se recusou a fazer o teste do bafômetro. O caso está com a Delegacia de Trânsito, onde foi aberto inquérito. O motorista não está preso porque não houve flagrante. A polícia tem 30 dias para investigar o caso. 

— Vamos ouvir testemunhas, identificar em que velocidade estava o motorista e anexar o depoimento dele no inquérito —, disse o delegado Fábio Fortes, responsável pela investigação.

“Quanto vale a vida dela?”

Entrevista/ Noel Freitas

RBS – Como Arai estava no domingo, dia do acidente?

Noel – Ela estava muito feliz. No início do mês (maio), ela fez aniversário e no domingo ela e os amigos decidiram sair para comemorar e tirar fotos.

RBS – Ela sempre fazia isso?

Noel – Ela e os amigos viviam juntos. Fizeram cada foto linda aquele dia. Ela estava de sapato novo e dizia que ia andar descalço porque ele apertava. Estava sempre rindo. Essa era minha filha.

RBS – Como vocês se sentem sabendo que o motorista que a atropelou está solto?

Noel – É muito complicado. Eu nem sei se ele pagou fiança antes de ser solto, mas eu fico pensando: quanto vale a vida dela? R$ 900? R$ 500? Eu entregaria toda a minha casa, tudo o que eu tenho dentro dela para ter minha filha de volta. Viveria até debaixo da ponte, mas queria ela aqui.

RBS – E agora? Como vai ser a vida de vocês?

Noel – Nunca mais vai ser a mesma. Podem passar 50 anos que não vai voltar ao normal. Agora, a gente espera que seja feito alguma coisa. A Justiça não pode falhar.


A NOTÍCIA/DIÁRIO CATARINENSE