sexta-feira, 3 de junho de 2011

Nos olhos do outro PM é refresco

Os olhos atentos dos policiais militares foram fechados à força na tarde de ontem. Integrantes do Pelotão de Operações Especiais (POE) do 23º Batalhão de Polícia Militar participaram de um treinamento ardido. Os Boinas Pretas, como são conhecidos os PMs da tropa de choque da Brigada na região, foram habilitados para utilizar uma nova arma não-letal, adotada como mais uma estratégia para a imobilização de criminosos. Pelo nome técnico, gás OC. No popular, spray de pimenta.

Após passarem por uma instrução teórica sobre o equipamento, os PMs se dividiram em duplas e testaram na prática os efeitos do gás. Na atividade, o grupo treinou distância, posicionamento e disparo. E depois de receber, de olhos fechados, o jato de espuma sobre o rosto, um a um os policiais eram conduzidos imediatamente até uma torneira, onde tentavam aplacar com água abundante o efeito desesperador do gás.

“É um efeito de ardência e queimação. Imediatamente a pessoa não consegue abrir os olhos”, define o comandante do POE, tenente Paulo Ricardo de Oliveira, ainda lacrimejando, 15 minutos após ser alvo de teste da substância pelas mãos de um colega PM. “Esse efeito acaba coibindo qualquer reação, o que é o objetivo de um armamento não letal”, acrescenta. Antes desse dispositivo, o 23º BPM já havia investido, no ano passado, em pistolas do tipo Taser, conhecidas como arma de choque.

Ambos os equipamentos são restritos ao POE, cujos integrantes possuem qualificação específica para o manuseio. A intenção do comando da Brigada Militar é evitar ao máximo o uso da força, mantendo a arma de fogo como último recurso absoluto, apostando em alternativas que não provoquem ferimentos. O grupo já contava com granadas de gás CS, um lacrimogêneo de efeito bastante reduzido em relação ao novo método e cuja utilização não permite o mesmo direcionamento.

Na escala de imobilização, em caso de resistência ou reação, o gás de pimenta será um recurso, respectivamente, anterior à Taser e às armas utilizadas pelos PMs – pistola, carabina e submetralhadora. “Esse novo recurso é o que de mais moderno existe hoje em armamento não letal”, resumiu o comandante da Brigada Militar em Santa Cruz, capitão Cristiano Marconatto.

COPA

Nas guarnições do POE, cada PM terá um tubo de gás de uso individual, cujo disparo é feito em direção aos olhos e a uma distância de aproximadamente um metro. O material é seguro e, após o efeito instantâneo que permite a captura do acusado, não deixa sequelas. “Essa alternativa causa o mínimo de trauma possível. Por outro lado, se a pessoa reage, a possibilidade de causar uma lesão com o uso da força é grande”, lembra o tenente Ricardo.

O pelotão também conta com um recipiente maior, indicado para o controle e dispersão de tumultos, como brigas em estádios e rebeliões em presídios. Nesse caso, o jato não é de espuma, mas aerosol, com distância de aplicação de cinco metros. Com a qualificação, o POE já projeta a participação dos PMs de elite em grandes eventos como a Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas. 

“Os POEs provavelmente serão empregados e, desde já, estão se preparando”.

Ontem, os policiais comprovaram na prática o ditado que diz que pimenta, nos olhos dos outros, é refresco. Tudo em nome da segurança.

Saiba mais
O spray de pimenta é um agente lacrimogêneo, enquadrado no grupo de armamentos não letais de efeito moral. Atua nas mucosas dos olhos, nariz e da boca, causando irritação, ardor e sensação de pânico. O princípio ativo é o Oleoresin capsicum (daí a abreviatura de OC, do nome do gás), que é uma mistura entre o princípio ativo natural da pimenta, a capsaicina, obtido da pele da semente, com uma espécie de óleo sintético, para dificultar a retirada do produto. A aplicação causa de imediato o fechamento dos olhos, possibilitando aos policiais a imobilização de criminosos ou a dispersão de tumultos. A extensão dos efeitos depende da quantidade disparada e da reação de cada organismo, mas a média não dura mais do que meia hora.
GAZETA DO SUL