terça-feira, 8 de novembro de 2011

Após 6 horas dentro de ônibus, detidos na USP criticam polícia

Os estudantes detidos durante a reintegração de posse da reitoria da USP (Universidade de São Paulo), na manhã desta terça-feira, reclamam do tratamento que recebem da polícia.

Os 70 jovens - 24 mulheres e 46 homens - serão autuados em flagrante por desobediência a ordem judicial, dano ao patrimônio público e crime ambiental. Após serem presos, eles foram levados em três ônibus da PM ao 91º DP (Ceasa).

Devido à quantidade de pessoas, eles permanecem dentro dos veículos e descem em grupos para prestar depoimento.

Após quase seis horas esperando nos ônibus, eles reclamam do calor, da falta de comida e de banheiro, e dizem que permanecer no ônibus é "tortura".

"A atuação foi brutal, uma presença muito forte e desproporcional. Para que agredir os estudantes, usando algemas? Os policiais quebraram várias portas da reitoria onde a gente nem tinha entrado. Temos consciência de que essa perseguição é política", disse Paulo Fávaro, 26, aluno de artes visuais.

Para a chefe de comunicação social da PM, coronel Maria Yamamoto, a operação foi um sucesso. "Não houve nem policiais nem estudantes feridos", afirmou.

De acordo com o delegado seccional Dejair Rodrigues, os estudantes terão que pagar uma fiança de R$ 1.050, que pode ser recalculada segundo suas condições econômicas. "Se não pagarem a fiança, eles vão ficar na carceragem do 91º DP", disse.


MÃES

Fora da delegacia, mães de alunos detidos também reclamam da polícia.

"Eu sou a favor de todas as reivindicações deles para coibir a ação truculenta da polícia. Meu filho não fuma maconha, não bebe, o único vício dele é tentar mudar o mundo", disse uma advogada, mãe de um estudante de ciências sociais.

Ele disse que o rapaz dormia dentro de um carro com a namorada, em frente à reitoria, quando a polícia chegou e o algemou. Ela diz que o filho foi agredido com um capacete e cortou o rosto.

Outra mãe, que espera notícias da filha estudante de história, diz apoiar o movimento. "Eu entrei dentro do prédio e depois de ouvir tudo que me contaram, eu acho que eles tiveram razão de ocupar a reitoria", afirmou.

OPERAÇÃO

Segundo a PM, os estudantes estavam dormindo por volta das 5h, quando a operação começou. Cerca de 400 policiais da Tropa de Choque e da Cavalaria da PM foram acionados, além de um helicóptero Águia e de policiais do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e do GOE (Grupo de Operações Especiais).

Os militares, portando cassetetes e escudos, fizeram um cordão de isolamento ao redor do prédio e retiraram os estudantes, que não resistiram à prisão. O prédio foi entregue pela polícia a um oficial de Justiça, já que a operação foi motivada por um mandado judicial.


ASSEMBLEIA

Os estudantes haviam decidido, em assembleia realizada na noite de ontem (7), manter a ocupação, apesar do fim do prazo dado pela Justiça para deixarem o local.

Após a votação, alguns estudantes agrediram jornalistas. Um cinegrafista caiu após ser empurrado e um fotógrafo teve a câmera arrancada e machucou as mãos - ele foi levado ao hospital.

O clima ficou tenso e, após os grupos ficarem separados, os alunos arremessaram pedras na direção dos jornalistas. Um cinegrafista foi atingido e ficou levemente ferido.

No momento do tumulto, não havia guardas universitários nem PMs no local. Após a confusão, um representante dos invasores disse que havia ocorrido uma "situação isolada".


RESISTÊNCIA

Na assembleia, vários estudantes disseram estar dispostos a resistir caso a PM fizesse a reintegração de posse.

Mais cedo, às 18h, uma reunião de negociação entre representantes da reitoria e alunos terminou em impasse.

O superintendente de relações institucionais da USP, Wanderley Messias da Costa, chegou a deixar a sala onde ocorria o encontro.

A proposta apresentada à tarde pela universidade previa que os alunos e funcionários não fossem punidos por participar da invasão.

A reitoria também manteve a oferta de criar grupos para discutir o convênio com a PM - principal motivo da invasão - e revisar processos administrativos contra estudantes.

Os alunos, no entanto, consideraram a proposta insuficiente, já que havia chance de novos processos caso ficasse provado que houve vandalismo no prédio invadido.

Os acontecimentos que levaram à ocupação da reitoria tiveram início no dia 27 de outubro, quando três alunos da USP foram detidos por posse de maconha. Houve reação de colegas, que investiram contra a PM. Policiais usaram bombas de efeito moral e cassetetes para levar os rapazes à delegacia - depois eles foram liberados.

Na mesma noite, um grupo de cem estudantes invadiu um prédio administrativo da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas). Na terça passada, mais de mil alunos realizaram uma assembleia que decidiu, por 559 votos a 458, pela desocupação do edifício.

A minoria derrotada, porém, decidiu invadir a reitoria, onde hoje há cerca de 50 manifestantes - a USP toda tem cerca de 82 mil alunos (50 mil só na Cidade Universitária).

FOLHA