sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Chinesa Sinopec paga US$ 3,5 bilhões na Galp por petróleo no Brasil

A estatal chinesa Sinopec ampliou sua participação no promissor setor de petróleo no Brasil ao fechar um acordo de US$ 3,5 bilhões por uma fatia de 30% na unidade brasileira da empresa portuguesa Galp Energia.

O negócio, anunciado nesta sexta-feira, é mais um passo da China para garantir suprimento de energia e evidencia o apetite das empresas petrolíferas por reservas nas águas profundas do Brasil, num momento em que estão paralisados os leilões de novas áreas de exploração no país. Mas o valor da operação, apesar disso, decepcionou.

O acordo segue um negócio de US$ 7 bilhões, fechado pela Sinopec no ano passado, de uma participação de 40% no braço brasileiro da empresa petrolífera espanhola Repsol e outro acerto de desenvolvimento marítimo de petróleo em abril com a Petrobras.

"Para a Sinopec, não há muitas oportunidades para crescer no tradicional setor de exploração de óleo e gás - e aquisições no exterior são a forma de manter o crescimento", disse o analista da UOB Kay Hian, Yan Shi. "Isso beneficia a Sinopec na exploração em reservas, e reduz riscos em sua deficitária operação em refino".

A Galp é parceira minoritária da Petrobras em importantes descobertas marítimas, incluindo o vasto campo do pré-sal de Lula, anteriormente conhecido como Tupi, assim como as descobertas de Cernambi e Iara.

DESAPONTAMENTO PARA A GALP

Embora o negócio dê à companhia portuguesa mais que o valor mínimo pedido de 2 bilhões de euros (US$ 2,7 bilhões), o preço que a Sinopec está pagando desapontou investidores, levando as ações da empresa portuguesa a caírem mais de 10%.

A Galp havia previsto angariar 2 bilhões de euros com a venda de 20% de participação, para ajudar a financiar sua parcela para o desenvolvimento de campos de petróleo.

"Os valores implícitos dos ativos da Galp neste acordo são decepcionantes. 

A Repsol obteve entre US$ 5,6 e US$ 5,8 por barril e este negócio saiu por US$ 3,9", disse Pedro Pintassilgo, gestor de fundos da F&C, de Lisboa.

Os papéis da BG, que também tem ativos no pré-sal do Brasil e que teria interesse de vender participação, também caíram por causa do acordo.

O analista do Santander Jason Kenney disse que o acordo Galp-Sinopec indica que a companhia chinesa não está pagando o valor comercial que todos esperavam ver. "Se você não pode conseguir o valor pelos ativos em uma transação comercial, então as pessoas começam a questionar o valor básico do ativo, e então a leitura para a BG é negativa".

A Galp disse que o acordo considerou o valor total de seus ativos no Brasil em US$ 12,5 bilhões.

"Este aumento de capital fortalece significativamente a estrutura de capital da Galp Energia, garantindo plenamente suas necessidades de financiamento para a futura expansão e desenvolvimento de suas atividades exploratórias", afirmou a Galp em comunicado.

PLANOS DA SINOPEC

Pelos planos de desenvolvimento, a Sinopec espera produzir 21,3 mil barris de óleo equivalente por dia em 2015, com produção esperada no pico de 112.500 barris em 2024.

Pelo acordo, a unidade de propriedade integral da Sinopec, a SIPC (Sinopec Internacional de Exploração e Produção Corp), terá novas ações a serem emitidas pela Galp e assumirá empréstimos de acionistas, disse a Sinopec Group em comunicado.

"Levando em consideração esse investimento e despesas de investimentos futuros projetados, o montante de pagamento em dinheiro será de aproximadamente US$ 5,18 bilhões no fechamento", disse a Sinopec.

A transação precisa ser aprovada pelo governo chinês.

AQUISIÇÕES CHINESAS

Aquisições externas feitas por empresas da China totalizam US$ 37,6 bilhões este ano, abaixo dos US$ 54,1 bilhões do ano passado, segundo dados da Thomson Reuters.

A estratégia da Sinopec de fazer aquisição no exterior é, em parte, guiada pela intenção de obter escala em alguns países, incluindo o Brasil, disse um funcionário da empresa que não quis ser identificado.

A Sinopec Group é a matriz da China Petroleum & Chemical Corp, listada em Hong Kong e Xangai.

O grupo faz investimentos externos na exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e gás e opera através do sua unidade integral SIPC.

A Sinopec teve apoio do Societe Generale, enquanto a Galp Energia de Bank of America Corp, JP Morgan e UBS Caixia BI, disse uma fonte.

REUTERS/FOLHA