Desde 2008, enquanto o PIB avançou 7,8%, puxado pelo crescimento de 14,2% do consumo, a produção de manufaturados acumulou queda de 3% nestes três anos.
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Sem derrocada do euro ou um pouso abrupto da economia da China, tais prognósticos devem se cumprir, embora, por ora, o consenso entre economistas e empresários leve a um cenário mais discreto para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), com o ritmo de crescimento vindo de algo como 3% este ano para 3,5% a 4%. Nestas simulações, a inflação não volta à meta central de 4,5%, mas ficaria abaixo do teto do intervalo de variação, 6,5%, que é o resultado mais provável para este ano. A depreciação cambial, portanto, estaria descartada, com o real forte voltando a apoiar o Banco Central contra a inflação. A taxa mais ouvida é R$ 1,75. Em contrapartida, a Selic pode continuar desinflando, estando ambos os movimentos, juros e câmbio, sintonizados com a retomada do crescimento pelo consumo - função de crédito fácil e de renda disponível e emprego, no mínimo, mantidos nos patamares atuais. O real depreciado, nestes termos, afronta a elevada avaliação que a presidente continua a receber, conforme a última pesquisa do Ibope, e nada indica que queira contradita-la. Ao contrário. O resultado final em 2012, baseado em tais pressupostos, deverá ser a volta do que os economistas do Morgan Stanley batizaram de “descompasso do crescimento” – a demanda doméstica relativamente aquecida em contraponto às dificuldades da indústria. A taxa de câmbio apreciada em relação aos custos de produção (de impostos a salários, dos serviços de infraestrutura ineficientes e caros à burocracia regulatória) rasga uma avenida para as importações. A economia com tal direcionamento leva a três resultados. Para Dilma, o PT e os partidos da base aliada, permite contar com os votos da percepção de bem-estar pelo eleitor, questão-chave nas eleições municipais marcadas para outubro. Para os analistas do mercado financeiro, projeta a expectativa de repique da Selic no fim de 2012. Para economistas atentos aos ciclos do crescimento, amplia-se o risco de que aumente a dependência das commodities e do viés de enfraquecimento da indústria de manufaturados. Qualidade do crescimento O cenário de indústria para baixo e demanda para cima é como o vício: prazeroso em tempo real, mas deixa sequelas para o resto da vida. É por isso que o economista Arthur Carvalho, do Morgan Stanley, diz que “a qualidade do crescimento é mais importante que a manchete sobre o número de 3,5% de crescimento do PIB”, a sua primeira projeção para 2012. De linha desenvolvimentista, o economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Industrial), Júlio Gomes de Almeida, reflete no mesmo tom. “Mais importante do que o quantitativo do desempenho econômico é a estrutura desse crescimento”, diz Julinho, como é conhecido. Colhe-se o que se planta Almeida fez um exercício interessante: comparou o crescimento do PIB no terceiro trimestre com seu equivalente em 2008. De lá para cá o PIB cresceu 7,8%. Superou o período mais crítico, ele avalia, mas cresceu menos que os emergentes, como China e Índia. E isso por quê? Porque, ao contrário do padrão asiático, aqui o consumo de famílias, que cresceu 14,2% nestes três anos, puxou a expansão do PIB, cabendo ao investimento, com aumento de 11,8%, papel subsidiário. Exportações, diz ele, apesar de “toda pujança do agronegócio e da mineração”, cresceram 5,1%, “sucumbindo ao fraco aumento das exportações de manufaturados”. Já as importações, “também manifestando a frágil competitividade da indústria”, tiveram acréscimo “elevadíssimo”, de 31,7%. Pobre, com pinta de rico O padrão da economia movida a consumo não deve mudar, já que o governo está ansioso com o crescimento e fazendo assim pode ter resultado mais rápido. “Só que uma economia que consome muito e tira daí o seu potencial de crescimento, além de investir apenas para o gasto”, como afirma Almeida, não está se desenvolvendo. O que está em curso, também devido à “dinâmica exportadora modesta e restrita ao setor primário, além de altamente importadora”, é a “desindustrialização precoce, com especialização em economia de serviços”. Países ricos passam bem assim. Não é o nosso caso. Manufatura em retração Um padrão de crescimento como esse impacta a estrutura setorial da economia. A liderança do consumo, avalia Almeida, fez a festa do setor de serviços, que cresceu 8,8% nos últimos três anos. O comércio avançou 9%, e o setor financeiro, 21,8%. Para servir à demanda, a oferta foi um fiasco. A produção agropecuária, também em três anos, cresceu 5,4%, e a da indústria, pífios 2,8% - e isso graças ao setor mineral e ao boom da construção civil. Sem tais atividades, tem-se a tal indústria manufatureira ou de transformação (carros, têxteis, eletrônicos), onde estão os bons empregos e a inovação tecnológica. Ela acumula queda de 3% desde 2008. Se o desenvolvimento vem daí, o modelo deve ser revisto. CIDADE BIZ |