O otimismo com que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala da atual situação da economia brasileira e de suas perspectivas para os próximos meses contrasta com as projeções cada vez mais pessimistas do empresariado, sobretudo do setor industrial.
Por razões políticas ou por desprezo a dados, o governo insiste em qualificar como meramente incidental a estagnação registrada no terceiro trimestre, razão pela qual continua a prever uma expansão de 4% a 5% do PIB em 2012. Economistas e dirigentes do setor financeiro consultados pelo Banco Central, ao contrário, vêm reduzindo suas previsões e, na pesquisa divulgada na última segunda-feira, a projeção para a expansão do PIB em 2012 caiu para 3,40% (na pesquisa anterior, estava em 3,48%). É mais do que a projeção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de aumento de 3,0% em 2012. A estimativa da Fiesp é mais pessimista, de 2,6%.
O fraco desempenho do setor em 2011 e a perda de competitividade no mercado interno e no exterior, que deteriorou a balança comercial, entre outros fatores negativos, abateram o ânimo dos industriais. A CNI reduziu de 3,2% (dado de julho) para 1,8% sua previsão de crescimento do PIB industrial neste ano. Com relação especificamente à indústria de transformação, a Fiesp calcula que o crescimento deve ficar em 0,9% neste ano; com uma pequena melhora, a expansão em 2012 poderá chegar a 1,5%. Seria um crescimento insuficiente para mudar a tendência da balança comercial da área de manufaturados, que, neste ano, deve registrar déficit de US$ 100 bilhões, de acordo com a Fiesp.
Embora não tão pessimistas quanto os da indústria, outros cálculos para o PIB de 2011 e outras projeções para 2012 também contrastam com os do governo.
Na semana passada, diante da evidência dos dados mais recentes, o ministro Guido Mantega admitiu que, em 2011, o PIB não crescerá 3,8% como vinha sendo previsto pelo governo (a previsão foi mantida no boletim do Ministério da Fazenda - Economia Brasileira em Perspectiva, que manteve também a estimativa de aumento de 5% em 2012). Mesmo a nova previsão do ministro, de que o PIB crescerá 3,2% em 2011, porém, é mais otimista do que a mais otimista estimativa do empresariado.
Na terça-feira (13/12), o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Vasconcelos, fez uma previsão um pouco mais modesta do que a do ministro, de crescimento "em torno de 3%" neste ano. Mas nem esse número deverá ser alcançado.
Instituições financeiras do exterior têm observado que, embora disponham de forte poder de reação, os países emergentes não estavam nem estão imunes aos problemas da Europa. A desaceleração foi observada nos principais países emergentes. Os efeitos da crise externa ainda não foram superados nesses países, entre os quais o Brasil. Isso torna mais remota a possibilidade de o PIB crescer 3% em 2011, pois, para isso, no último trimestre, o crescimento deve ser de pelo menos 0,8% em relação ao trimestre anterior, expansão que dificilmente será alcançada. A agência Fitch reduziu sua previsão do crescimento neste ano para 2,8%, a mesma projeção feita pela indústria e por economistas de diversos bancos.
A desaceleração dos últimos meses deverá afetar o desempenho da economia brasileira no início de 2012. Quanto a novos estímulos à atividade econômica, a alta do salário mínimo, a maior dos últimos seis anos, começará a produzir efeito no início do próximo ano. Mas medidas recentes adotadas pelo governo para estimular o consumo produzirão efeitos mais notáveis só no fim do primeiro semestre.
Na segunda metade do ano, se a crise mundial não se agravar, o ritmo de crescimento poderá se acelerar. Por isso, as previsões mais frequentes para o PIB brasileiro em 2012 convergem para 3,5%, mais do que a previsão da CNI e da Fiesp, mas bem menos do que os 4% ou 5% que permanecem nas projeções otimistas do governo.
FOLHA