quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Operação do BCE alivia tensões em zona do euro


Especialistas do setor financeiro reagiram favoravelmente à intervenção mais recente do BCE (Banco Central Europeu), que fez nesta quarta-feira uma injeção maciça de liquidez no sistema bancário do Velho Continente.

O BCE repassou € 489 bilhões (US$ 653 bilhões) a 523 bancos afetados pela crise na zona do euro pelo período de três anos. Anunciada ontem, a demanda pelos recursos do banco central foi muito superior ao esperado por economistas, que previam um montante entre € 100 bilhões e € 250 bilhões.

A expectativa é que os recursos estimulem a recuperação das instituições, levando à compra de títulos da dívida da Espanha e da Itália.

"Com uma ajuda tão generosa, o espectro de bancarrotas das instituições financeiras por problemas de liquidez deveria ser afastado, podendo desaparecer um dos riscos que poderia provocar a piora da crise das dívidas [soberanas]", afirmou Christian Schulz, do banco Berenberg.

A injeção de liquidez é fundamental para os bancos da zona do euro, que necessitam refinanciar bilhões em dívidas a vencer em 2012. Segundo o presidente do BCE, Mario Draghi, o montante alcançaria mais de € 600 bilhões, dos quais € 230 bilhões somente no primeiro trimestre.

"Embora isto possa ajudar a resolver alguns sinais de tensão nos mercados de crédito e estimular os bancos a concederem crédito, continuamos céticos quanto à ideia de que a operação amenizará a crise da dívida soberana (...)", disse Jonathan Loynes, economista-chefe de Europa da Capital Economics.

As Bolsas de Valores europeias operavam em terreno negativo nesta quarta-feira, na sequência de uma jornada de fortes valorizações ontem, quando uma rodada de notícias positivas na Alemanha, Espanha e EUA melhorou o humor dos investidores.

O mercado de títulos públicos revelava um cenário mais tenso, e operadores notaram que os títulos alemães, italianos e de boa parte das nações da zona do euro eram negociados a juros mais altos (uma clara indicação de nervosismo dos agentes financeiros) em comparação às taxas negociadas na terça-feira.

SEGUNDA OPERAÇÃO

O empréstimo anunciado nesta quarta-feira é a primeira das duas operações com vencimento a três anos (36 meses) que a instituição financeira vai realizar. A segunda será em fevereiro.

A ação será realizada mediante um procedimento de leilão com adjudicação plena e a uma taxa de juros fixa, que será indexada à média à qual ficar situada a taxa de juros reitora do BCE no período em que o empréstimo estiver em vigor.

Atualmente, as taxas de juros estão fixadas em 1% na zona do euro, mas ao longo dos três próximos anos podem ocorrer mudanças.

Espera-se que a participação neste leilão seja "muito elevada", segundo Christoph Rieger, analista do Commerzbank, a segunda maior entidade financeira alemã por ativos.

Em 2009, numa operação semelhante por parte do BCE, em meio à crise, € 442 bilhões foram emprestados aos bancos europeus no período de um ano. Do montante, somente a metade foi utilizada para a compra de títulos de nações endividadas - sobretudo da Espanha e da Grécia - aponta um estudo do Deutsche Bank citado pelo "Financial Times".

FOLHA