domingo, 4 de dezembro de 2011

Rivalidade entre Rússia e EUA não terminou com fim da URSS

A dissolução da URSS (União de Repúblicas Socialistas Soviéticas) deixou os Estados Unidos como única superpotência mundial, mas não acabou com o antagonismo entre Washington e Moscou, que ao longo destes 20 anos ressurgiu de várias formas.


Certamente, a Rússia tinha poucos recursos econômicos após a mudança de regime, e sua liderança foi interditada, mas a herdeira da URSS não aceitou em nenhum momento um monopólio americano sobre os assuntos mundiais e competiu com ele.

Já os Estados Unidos procuraram promover nestas duas décadas a transformação política e econômica da Rússia e sua incorporação às organizações multilaterais, enquanto observa com apreensão o crescimento da China.

A incorporação da Rússia nas cúpulas do G7, em forma de G8, e sua iminente adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC) após 18 anos de negociações, fazem parte dessas medidas de incorporação.

Na recente cúpula Ásia-Pacífico, realizada em Honolulu, o presidente americano, Barack Obama, assegurou após uma reunião cordial com seu colega russo, Dmitri Medvedev, que a incorporação da Rússia à OMC será "boa para os Estados Unidos e para o mundo".

Entretanto, Washington não deixou de ser um crítico severo da Rússia por seu modelo de democracia, que considera autoritário, e por seu capitalismo oligárquico, nem deixou de vigiar as ambições militares de Moscou e as difíceis relações que mantém com alguns de seus vizinhos.

CRÍTICAS

Há apenas uma semana, os ecos da Guerra Fria voltavam a soar nas duas capitais pela eterna questão da segurança na Europa.

O presidente russo acusou os EUA e a seus aliados da Otan de atuar de má fé com relação ao escudo antimísseis que pretendem instalar na Europa oriental, para supostamente defender o continente de um ataque do Irã, e advertiu que a Rússia apontaria seus mísseis ao Ocidente.

Há poucos dias, o líder russo inaugurou no enclave báltico de Kaliningrado uma estação de radares de alerta contra mísseis, perante os olhos da União Europeia e da Otan.

Anteriormente, os EUA tinham anunciado que deixariam de conceder informações à Rússia sobre o número e a posição de suas tropas na Europa, em outra mostra de desconfiança mútua.

De acordo com Washington, a medida é uma resposta ao descumprimento de Moscou do Tratado FACE, que limitou as forças armadas convencionais na Europa e foi assinado um ano antes da dissolução da URSS.

A instalação de um escudo antimísseis é apenas o mais recente episódio em uma longa lista de desencontros entre as duas potências sobre as condições de segurança na Europa.

PONTOS DE ATRITO

A guerra da Tchetchênia, a expansão da Aliança Atlântica rumo ao centro e o leste da Europa, até englobar antigas repúblicas soviéticas como a Estônia, Letônia e Lituânia, a presença russa na Moldávia e a guerra da Geórgia são outros exemplos.

A rivalidade também se manteve com relação a outras áreas do mundo. 

Ainda após o fim do comunismo soviético, os dois grandes continuaram discordando sobre a Coreia do Norte, o Irã e a Síria.

Entretanto, nenhum conflito causou mais tensão entre Estados Unidos e Rússia que a invasão do Iraque em 2003. A iniciativa unilateral do presidente americano George W. Bush convenceu a Rússia de que não é a legalidade internacional o que guia Washington.

A Rússia acusa os Estados Unidos de querer romper na Europa e fora dela o "equilíbrio estratégico" e buscar um potencial militar único que garanta a invulnerabilidade absoluta, ou seja, "a absoluta impunidade", nas palavras do embaixador russo na Otan, Dmitri Rogozin.

A "libertação" da Europa oriental, o fim da Guerra Fria e o colapso da União Soviética em 1991 foram festejados nos Estados Unidos como um triunfo estratégico próprio, sob a direção do presidente Ronald Reagan, e em menor medida por George Bush pai.

Mas, como afirma o historiador George C. Herring em seu livro "From Colony to Superpower" ("De colônia a superpotência", em tradução livre), dedicado à política externa dos EUA, "a economia soviética se afundou por seu próprio peso e não por pressões exteriores".

Além disso, ele acrescenta, é possível que o "poder brando" dos EUA na música e nos seus bens de consumo tivesse mais efeito subversivo que sua força militar.

FOLHA