quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A escolha difícil de Dilma neste início do novo ano


O ano de 2012 começa para Dilma Rousseff sob o signo de novas dificuldades. Se no ano passado ela precisou fixar, logo no início, um contingenciamento de R$ 50 bilhões no Orçamento, neste ano pode ser necessário elevar o corte para R$ 70 bilhões. É que não haverá, neste início de ano, receitas infladas de Imposto de Renda relativas ao bom desempenho do ano anterior, de empresas e pessoas físicas, mas haverá despesas infladas, com o novo salário mínimo pesando sobre o pagamento do funcionalismo público e sobre os gastos do INSS.
Em março a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2011, menor do que se esperava, oferecerá uma nova frustração à presidente, ciente de que a opinião pública não deixará de comparar esse resultado ao do último ano de governo de Lula.
Neste início de ano, há um aviso importante na divulgação dos primeiros índices de preços: os preços dos produtos agropecuários voltaram a ter grande peso na formação do índice geral, e são eles os que mais sobrecarregam o orçamento das famílias de menor renda.
A presidente conta com um único aliado possível neste quadro: o Banco Central, que por meio da sua nova política monetária poderá continuar reduzindo a taxa básica de juros, como fez nos últimos meses, para conter uma nova onda inflacionária.
Não foi dada suficiente atenção aos comentários surgidos em torno de um estudo divulgado no último Relatório de Inflação, em que se procurava demonstrar que um corte das despesas orçamentárias é mais eficiente do que uma elevação da taxa Selic para conter a inflação.
Dilma Rousseff deu certamente grande atenção a esse estudo e, para evitar que o Banco Central tenha de voltar a elevar a Selic, fará todos os esforços para reduzir os gastos do governo.
O risco é de que para isso resolva voltar a sacrificar os investimentos, em lugar de reduzir os gastos de custeio, como fez no ano passado, o que contribuiu para um forte recuo do PIB, com destaque para o setor manufatureiro.
É preciso lembrar que os investimentos em infraestrutura têm duas vantagens: elevam as encomendas à indústria, que está numa fase de atividade declinante, e, melhorando a infraestrutura, aumentam a capacidade de concorrência da indústria brasileira, o que permite que esta ofereça melhores preços no mercado internacional, garantindo assim um novo impulso ao setor.
Cabe a Dilma Rousseff se compenetrar nessas vantagens, mesmo sabendo das dificuldades de cortar gastos de custeio.
ESTADÃO