terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Rota entra em operação da PM na cracolândia


A Polícia Militar informou nesta terça-feira que a segurança na cracolândia, região central de São Paulo, foi reforçada a partir de hoje. A Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tida como a tropa de elite da PM paulista, passa a fazer parte da operação.

O número total de policiais militares na nova fase da Ação Integrada Centro Legal passa a ser de 287, destes 152 são da Rota, 120 do policiamento comum, 12 bombeiros e três do grupamento aéreo. São 117 carros e 26 motos, além do apoio ao patrulhamento com bicicletas, 40 cavalos, 12 cães farejadores e o helicóptero Águia.

Segundo a PM, a segurança foi reforçada em bairros como o Bom Retiro, Santa Cecília e Higienópolis. O objetivo é não deixar que os usuários se aglomerem em outros bairros próximos. "A migração já era prevista", afirmou o tenente Flávio Martinez, do 13º Batalhão, comandante da operação na Nova Luz, por meio de nota.

Bases comunitárias móveis da polícia estão instaladas nas praças Júlio Prestes, Princesa Isabel, República e Vilaboim, e nos largos do Arouche e da Santa Cecília.

Até as 17h de hoje, 51 pessoas haviam sido presas desde o início da operação - foram 23 prisões em flagrante e 28 foragidos da Justiça recapturados. Foram recolhidas 61,3 toneladas de lixo na região.

MINISTÉRIO PÚBLICO

Um inquérito civil foi instaurado em conjunto por quatro promotorias para investigar a operação iniciada no dia 3 pela Polícia Militar na cracolândia, no centro de São Paulo. Segundo os promotores de Habitação, Direitos Humanos (Inclusão Social e Saúde) e da Infância e Juventude, o objetivo é descobrir quem está comandando a ação e se houve improbidade administrativa.

Em entrevista coletiva realizada nesta terça-feira, eles caracterizam como "desastrosa" a ação, que teria boicotado o trabalho que já estava sendo feito na região.

A principal crítica dos promotores é que a operação foi realizada antes da inauguração do centro de acolhimento para usuários de drogas, localizado na Rua Prates, região central.

O grupo marcou uma reunião com os órgãos envolvidos para o próximo dia 13 a fim de decidir o que pode ser feito e quem pode ser responsabilizado.

Os promotores ainda foram questionados se a operação teria sido deflagrada para tentar impedir uma intervenção do Governo Federal na região. "Não é possível fazer esta afirmação, mas temos que lembrar que é um ano eleitoral", disse o promotor Maurício Lopes, da promotoria de Habitação.

GOVERNO

Após a manifestação da Promotoria, a Secretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania divulgou uma nota informando que o governo do Estado de São Paulo está à disposição para fornecer qualquer informação que for solicitada pelo Ministério Público.

"O Governo do Estado de São Paulo reafirma que as ações de combate ao tráfico de drogas e de assistência aos dependentes químicos vêm sendo planejadas em conjunto com a Prefeitura há pelo menos três meses. 

Membros do Ministério Público e do Poder Judiciário participaram de reuniões e muitas das sugestões foram contempladas. Desde o princípio, Governo e Município foram claros em relação ao cronograma e ao caráter contínuo e de longo prazo da operação. Os resultados obtidos nestes primeiros dias estão dentro do planejado", diz o comunicado.

PROTESTO

O coletivo Dar (Desentorpecendo a Razão) está organizando um "churrascão de gente diferenciada" na cracolândia, na Rua Helvétia esquina com a Rua Dino Bueno, região central de São Paulo, no sábado (14) às 16h.

Mais de 1.000 pessoas confirmaram presença no evento criado no Facebook até a tarde desta terça-feira. A intenção é protestar contra a ação da PM na região, "o preconceito e o racismo dos políticos e das elites paulistanas".

A expressão "gente diferenciada" foi usada por uma moradora em entrevista à Folha, no início do ano passado, para descrever os "mendigos e drogados" que a construção de uma estação de metrô atrairia para a região de Higienópolis (bairro nobre na zona oeste de São Paulo). Na época, houve um "churrascão de gente diferenciada" no bairro.
No Facebook, o coletivo explica que a expressão foi escolhida para nomear o protesto "porque na cracolândia todo mundo é gente como a gente".


"Sem oferecer alternativas decentes aos usuários que são dependentes e sem respeitar os direitos humanos deles e dos outros usuários, trabalhadores e frequentadores da região da Luz, o governo paulista vem ocupando militarmente, desde o dia 3 de janeiro, a zona conhecida como cracolândia. Higienismo, preconceito, segregação, violência, intolerância, tortura, abuso de autoridade e mesmo suspeitas de assassinato passaram a ser ainda mais constantes nos dias e principalmente nas madrugadas do bairro", diz o convite para o protesto.

Ao menos 48 pessoas já foram presas na operação policial nas ruas da cracolândia, que começou na terça-feira (3) passada e causou a dispersão dos usuários para as ruas da região.

A atuação da PM foi marcada por correria, bombas de efeito moral e tiros de balas de borracha entre a noite de sábado (7) e a madrugada de domingo (8). Ao menos cem pessoas que se aglomeravam na rua dos Gusmões foram dispersadas pela polícia.

FOLHA