quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Fé, protesto e música levam 400 mil à festa de Iemanjá na Bahia


A festa de Iemanjá, divindade do candomblé das águas salgadas, já levou ao Rio Vermelho, em Salvador, cerca de 400 mil pessoas na manhã desta quinta-feira (2).

A estimativa é da Polícia Militar. A expectativa é que outras 100 mil participem da festa até o final da tarde, quando os barcos com as oferendas a Iemanjá vão deixar a praia do Rio Vemelho para depositá-las no mar.

Fieis passaram em média uma hora na fila para depositar seus presentes -em geral, flores, cosméticos e alfazema - para a divindade do candomblé.

A tradição foi iniciada em 1923, quando pescadores, devotos de Iemanjá, foram ao mar com oferendas para pedir fartura de peixes.

"Tudo começou com os pescadores levando as oferendas em uma caixa de sapato, e Iemanjá respondeu com uma pesca muito rica", afirmou o babalorixá (sacerdote) Ducho de Ogum, 45, um dos organizadores da festa.

Desde então, o ritual vem se repetindo todos os anos e cresceu até se tornar uma das maiores manifestações coletivas de religiosidade do Nordeste.

"Estou aqui para agradecer a recuperação do meu marido, que teve um câncer de próstata. Vim dizer obrigado e pedir paz e felicidade esse ano", dizia a enfermeira Jurema Rodrigues, 63, enquanto aguardava na fila sob sol a pino. Ela levava flores e esmalte.

O aspecto religioso convive com o caráter de protesto multifacetado. Para aproveitar a visibilidade da multidão, a festa atrai grupos com causas tão díspares como ecologistas, agentes de saúde e opositores do prefeito João Henrique Carneiro (PP).

"Nos dias de hoje, é um absurdo reprimir a maconha, é a contramão da história", reclamava o historiador Antônio Moura, 61, enquanto exibia um cartaz em que estava escrito "Yes We Cannabis", trocadilho com o slogan de Barack Obama.

Este ano, a Justiça proibiu a circulação de trios elétricos durante a festa. O som dos batuques e de pequenas bandas de sopros é a trilha sonora onipresente nas ruas do bairro Rio Vermelho. Antigas marchas de Carnaval e sons cerimoniais do candomblé se misturam pelas ruas.

FOLHA