quarta-feira, 28 de março de 2012

Pesquisa identifica ponto vulnerável de doença do cacau


Se depender de uma equipe de cientistas da Unicamp, a bruxa não estará mais solta nos cacaueiros da Bahia. Ou melhor, a vassoura-de-bruxa -fungo que é a principal pedra no sapato da produção de cacau no país.

Em artigo científico recém-publicado, os pesquisadores elucidaram o que parece ser um mecanismo-chave do metabolismo da vassoura-de-bruxa e mostraram que, se ele for desligado, o parasita deixa de crescer no cacaueiro.

Os resultados, por enquanto, foram conseguidos em laboratório, mas a equipe coordenada por Gonçalo Pereira tem como objetivo transformar a descoberta num fungicida que possa ser aplicado nas plantações do país.
MMA.

Pereira compara o embate entre o cacaueiro e seu parasita a uma luta de MMA.

"Imagine que um lutador fortão, um Anderson Silva, está enfrentando um cara magrinho. Ele agarra o pescoço desse magrelo, aperta, aperta, e nada de esse cara desmaiar. A questão é que o magrinho tem dois pescoços. Não adianta apertar só um", diz o pesquisador.

A analogia se refere ao fato de que o fungo da vassoura-de-bruxa, o Moniliophtora perniciosa, tem duas estratégias diferentes para respirar -os tais "dois pescoços".

A diferença entre as estratégias está nas duas substâncias distintas que o fungo usa para processar o oxigênio nas mitocôndrias, as usinas de energia das células.

O estudo da Unicamp mostrou que o fungo usa cada uma dessas substâncias em fases diferentes do seu ciclo de vida. Uma delas parece ser a preferida quando a vassoura-de-bruxa está afetando tecidos vivos do cacaueiro, "esgueirando-se" pelos espaços entre as células da planta.

A segunda substância é mais empregada pelo fungo na fase avançada da doença que ele causa, quando o parasita passa a "devorar" tecidos do cacaueiro que já estão mortos, diz a pesquisa.

Não se trata de mero detalhe bioquímico. O estudo verificou que a primeira forma de respiração celular é importante porque ela facilita a sobrevivência do fungo justamente quando a planta está lutando para expulsá-lo de seu organismo.

A substância usada nesse tipo de metabolismo impede que o fungo seja seriamente danificado por defesas bioquímicas do cacaueiro.

Ficou claro, portanto, que as células da vassoura-de-bruxa tinham "dois pescoços". Um deles já é conhecido em outros fungos - há fungicidas comerciais que atacam a substância, mas a ação deles não é suficiente para deter a doença na lavoura.

"O que ainda não existe são defensivos capazes de bloquear a outra via", explica Daniella Thomazella, também autora da pesquisa ao lado de Pereira e do doutorando Paulo Teixeira.

Em laboratório, porém, a equipe da Unicamp conseguiu usar um inibidor que bloqueia a forma de respiração que hoje escapa aos fungicidas. E, nesses casos, o crescimento da vassoura-de-bruxa cessou totalmente.

"O problema é que os inibidores que nós usamos são muito instáveis. 

Temos de achar maneiras de fazer com que ele dure no campo", afirma Pereira.

A vantagem, de qualquer modo, é que se trata de uma substância específica do organismo do fungo. Por isso mesmo, borrifar a planta com um bloqueador dessa via não faria mal a seres humanos.

FOLHA