sexta-feira, 27 de abril de 2012

Sarkozy assusta seu partido ao se aproximar da extrema-direita


A estratégia de se voltar para a extrema-direita, assumida mais do que nunca pelo candidato e presidente francês Nicolas Sarkozy, começa a assustar uma parte dos dirigentes de seu próprio partido, a UMP (União por um Movimento Popular), embora muito poucos se atrevam a manifestar publicamente suas reticências.

Em particular, os comentários se espalham desde o último domingo, após o primeiro turno, no qual Sarkozy ficou em segundo (com 27,18% dos votos), superado pelo socialista François Hollande (28,63%), com quem deverá disputar o segundo turno no dia 6 de maio. Em terceiro lugar ficou a ultradireitista Marine Le Pen (com 17,90%).

Para se impor nas eleições, segundo pesquisas, Sarkozy deveria recuperar a maioria dos votos de Le Pen, e nesta última fase da campanha, diferentemente do que se esperava, manteve a imigração entre seus temas preferenciais, em vez de se orientar a temáticas centristas.

Para isso contou com seu assessor Patrick Buisson, proveniente das fileiras da extrema direita.

"Sarkozy-Buisson é a estratégia da terra arrasada. Sarkozy disse que se não fosse reeleito deixará a política. Deveria pensar mais em nós, que vamos ter que continuar na luta depois de 6 de maio", protestou uma parlamentar da UMP.

"Está sendo feito tudo o que não deveria ser feito nesta campanha. Fala-se muito de segurança e imigração. Deveria ter se falado de emprego, do protecionismo europeu, tomar medidas sobre a gasolina", disse, pedindo para não ser identificado, um ministro.

"A vitória conta com 100 pais e a derrota é órfã. Se vencer, vence...", declarou um dirigente do partido presidencial. Ou seja, uma eventual derrota nas eleições será responsabilidade de Sarkozy.

Mas entre os dois turnos "estamos em pleno combate" e "não é o momento" de expressar seus estados de ânimo, declarou na quinta-feira à agência France Presse o ex-ministro Patrick Devedjian. "Eu me pronunciarei um pouco mais tarde", disse.

No último domingo, no debate televisivo após o primeiro turno, Devedjian lamentou que o candidato da UMP "não tivesse falado muito da crise".

"A ultradireita só é forte quando a direita é fraca, quando carece de um pensamento próprio", disse Devedjian.

CAMPANHA EMBARAÇOSA

O ex-primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, procedente do campo liberal, esconde pouco que a campanha de Sarkozy lhe pareça embaraçosa. Em uma entrevista nesta sexta-feira ao jornal "Le Monde", advertiu que "o tempo para analisar" a estratégia "virá depois de 6 de maio", dia do segundo turno.

"Se manifestasse hoje minhas reticências, enfraqueceria meu campo", declarou Raffarin, que dirigiu um dos governos de Jacques Chirac (1995-2007) e atualmente é vice-presidente do Senado, para quem, por enquanto, a única coisa que deve ser feita é "combater" e, consequentemente, deve-se ser "leal". 

Uma maneira de reconhecer que tem reticências.

Como prova de sua inquietação, Raffarin acrescentou: "prestei meu serviço militar com os bombeiros, com eles aprendi que no momento do incêndio, quando está em grande escala, não há estado de ânimo que valha".


Outro ex-primeiro-ministro de Chirac, Dominique de Villepin, adversário obstinado de Sarkozy, disse estar espantado pela campanha eleitoral do presidente Nicolas Sarkozy e por suas provas de extremismo", em uma coluna publicada nesta sexta-feira na versão eletrônica do jornal "Le Monde".


Por sua vez, o ex-ministro da Cultura Renaud Donnedieu de Vabres julgou que "a estratégia escolhida por Sarkozy", que consiste em ir "em direção à Frente Nacional", conduzirá "ao fracasso", e assegurou que "o mal-estar é evidente" no seio da maioria.


"Ir, de uma maneira ou de outra, em direção à Frente Nacional é algo suicida. O que ela quer é nossa pele", declarou nesta quinta-feira ao jornal A Nova República.

Até Henri Guainno, conselheiro-especial do chefe de Estado, criticou de forma velada a decisão de Sarkozy de celebrar "o verdadeiro trabalho" no dia 1º de maio, indicando que ele não utilizaria "este termo".

Em uma nota publicada na quinta-feira no jornal "Le Monde", Jean-Philippe Moinet, ex-presidente do Observatório sobre o Extremismo, falou da "cegueira" da dupla Sarkozy-Buisson.

"Com sua caça nas terras da ultradireita, o candidato terminou por não se dar conta de que as convicções de sua família política estão em jogo. Esta linha vai terminar não apenas provocando a derrota nas eleições, mas fazendo perder também sua alma", disse Moinet.

FOLHA