terça-feira, 1 de maio de 2012

Dilma, FHC e a corda esticada


Pode parecer mentira, mas é fato. Eles só não vão admitir isso publicamente, mas alguns petistas gostaram do tom da entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a Maria Cristina Frias, na qual ele faz um alerta à presidente Dilma. Ao classificar de "importante" a faxina promovida pela presidente, FHC ressaltou que "talvez ela não avalie o risco político que está correndo".

Tem muita gente dentro do PT, sem falar no PMDB, que reservadamente vem reclamando do estilo da presidente Dilma em relação à sua base aliada e da forma como ela trata sua articulação política.

Um petista com livre trânsito no Palácio do Planalto destacou principalmente a frase em que FHC diz que "o Congresso brasileiro é mais forte do que se pensa. Se não tem certa capacidade de entender o papel do Congresso no sistema brasileiro, você pode se dar mal".

Aliados e assessores presidenciais defendem, por exemplo, que Dilma Rousseff amplie seu leque de interlocutores políticos e crie um fórum permanente de debate interno do governo, principalmente de temas relacionadas à sua base aliada.

A avaliação é que a presidente está "muito isolada" em suas decisões, ouvindo poucas pessoas, geralmente apenas aquelas ligadas diretamente à área relacionada à medida que está estudando. A criação da CPI do Cachoeira é um exemplo citado dentro do governo como resultado desta pouca disposição presidencial de ouvir o mundo político.

No caso específico da comissão parlamentar de inquérito, Dilma deu ouvidos basicamente ao ex-presidente Lula e a alguns petistas. Aliados e assessores acreditam que a CPI poderia nem ter sido criada se ela tivesse procurado debater o tema com políticos de outros partidos, principalmente aqueles com experiência em comissões parlamentares de investigação.

Os nomes do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) e do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (PC do B-SP), são mencionados como interlocutores que poderiam ter aconselhado a presidente a tentar evitar a CPI do Cachoeira.
A escolha do deputado Brizola Neto (PDT-RJ) para comandar o Ministério do Trabalho também é apontada por aliados como um erro político da presidente Dilma no seu relacionamento com sua base de apoio no Congresso.

Primeiro, porque Brizola Neto não une a bancada pedetista. Segundo, pelo fato de ela insistir em manter o PDT no comando da pasta, um partido com uma bancada de apenas 26 deputados, que não vota unida com o governo. Pelo contrário, nas últimas votações tem dado mais votos contra do que a favor do Palácio do Planalto.

Tudo indica, porém, que, a despeito das queixas de petistas e peemedebistas, Dilma Rousseff não pretende mudar seu estilo. Pelo contrário, os sinais emitidos pelo Planalto apontam na direção contrária ao desejado pelos aliados.

A mudança de diretores na Petrobras é um exemplo claro. Dilma sinalizou que não quer mais partidos políticos com grande influência nos destinos da maior estatal brasileira. Deixou insatisfeitos os partidos políticos que estavam acostumados a usar o poder da estatal em benefício próprio.

Enfim, Dilma vai esticando a corda. Com a popularidade nas alturas, ela encontra respaldo e apoio na população para seguir tocando o governo a seu estilo. Mas como disse FHC, o Congresso brasileiro é mais forte do que se pensa. Só uma observação: talvez os tempos estejam, de fato, mudando por aqui, e o mundo político terá que se acostumar com um novo modo de convivência com o Executivo. O que será uma grande evolução e profundamente benéfico ao país. A conferir.
Valdo Cruz
Valdo Cruz é repórter especial da Folha e colunista da Folha.com. Cobre os bastidores do mundo da política e da economia em Brasília. Escreve às terças-feiras.
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