sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Banco Central decreta liquidação do Cruzeiro do Sul


O Banco Central decretou nesta sexta-feira a liquidação do Banco Cruzeiro do Sul após o fracasso das negociações para a venda da instituição ao Santander.

As conversas com o grupo espanhol se estenderam até a noite de ontem, mas não tiveram um desfecho favorável. Sem um comprador, o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) recomendou a liquidação do banco, confirmada nesta manhã pelo Banco Central.

O Cruzeiro do Sul teve um rombo contábil de R$ 3,1 bilhões e está com patrimônio negativo. A instituição tem 0,25% dos ativos do sistema financeiro nacional e 0,35% dos depósitos.

Para evitar a liquidação, o FGC tinha de encontrar um comprador e obter êxito na negociação das dívidas. Quase 90% dos credores aceitaram o desconto de 49,3% no valor que têm a receber.

Com a liquidação, os credores terão de reclamar os pagamentos na Justiça. O FGC garante a cobertura integral de depósitos até R$ 70 mil e mais os CDBs que foram comprados com garantia especial, conhecidos como DPGE.

Segundo o Banco Central, cerca de 35% dos depósitos do Cruzeiro do Sul contam com a garantia do FGC, que deve desembolsar R$ 1,9 bilhão para as coberturas.

PROSPER

O BC também decretou a liquidação do Banco Prosper, que foi comprado pelo Cruzeiro do Sul no ano passado. O negócio estava em processo de aprovação no Banco Central, que rejeitou a proposta diante das dificuldades. De acordo com o comunicado, a instituição vinha registrando prejuízos, expondo credores a risco anormal e apresentava patrimônio insuficiente.

O Prosper tem 0,01% dos ativos do sistema financeiro e 0,01% dos depósitos, cerca de 60% deles garantidos pelo FGC.

Em consequência à liquidação, ficam indisponíveis os bens dos controladores e dos ex-administradores do Banco Prosper. A penalidade segue valendo também aos responsáveis pelo Cruzeiro do Sul, afetados desde a intervenção, em 4 de junho.

NEGOCIAÇÕES

Desde a intervenção, cinco bancos se credenciaram para analisar os dados estratégicos do Cruzeiro do Sul, mas três desistiram na semana passada por achar o negócio arriscado.

Nesta semana, só o Bradesco ainda participava das negociações. O BTG Pactual, que era visto como um dos favoritos, também desistiu de fazer uma oferta. Na última hora, negociadores foram atrás do Santander, que aceitou discutir o assunto.

Um dos entraves era a dúvida quanto ao valor de benefício fiscal que poderia ser apurado no caso da compra. As estimativas iniciais eram de até R$ 1 bilhão em economia de impostos nos próximos anos. O problema é que esse benefício fiscal foi calculado com base em dados que são contestados.

O comprador teria ainda de trazer pelo menos R$ 700 milhões ao Cruzeiro do Sul.

O rombo financeiro é decorrente de mais de 300 mil empréstimos consignados fictícios, maquiagem de balanço, entre outros crimes.

O principal negócio do Cruzeiro do Sul é o crédito consignado, que não motiva mais os grandes bancos comprarem instituições menores porque eles próprios estão fazendo essas operações, com custos menores. Além do consignado, o banco tem uma corretora e uma gestora de fundos. Essas operações também foram afetadas pela liquidação.

Ontem, as ações do banco subiram quase 25% com o otimismo dos investidores após a adesão dos credores e com a negociação com o Santander. Na manhã desta sexta-feira, a Bovespa interrompeu os negócios com os papéis do banco.

FOLHA DE S. PAULO