quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Jaques Wagner admite que mensalão pesa e teme por 2014


SALVADOR — O petista Jaques Wagner, governador da Bahia, não tem medo de contrariar as palavras de ordem do PT. Ao fazer um balanço das eleições deste ano, mesmo exaltando o crescimento do número de prefeituras, reconhece o peso do mensalão na disputa e não descarta que o PT pode perder as eleições presidenciais nos próximos anos “por cansaço do eleitor”. Ele diz, no entanto, que é difícil apontar o escândalo do mensalão como o responsável direto por algum resultado eleitoral.

— Tudo conta, mas é muito difícil ter uma medida. O povo sabe que há anjos e demônios em todos os partidos e que nenhum deles tem a tutela da moralidade absoluta. Se você me perguntar se o mensalão pesou, é óbvio que pesou. Mas quanto pesou, se isso foi absolutamente definidor do resultado, não sei. Toda vez que alguém tentar fazer um dogma, de que com alguma coisa o cara se acabou, pode estar certo que está furado — afirmou.

Esquema foi uma “grande trapalhada”

Ex-ministro do governo Lula e antigo companheiro de Congresso de boa parte dos réus, o governador diz estar sentindo as condenações e reitera não acreditar na compra de apoio político no Parlamento. Chama o esquema financeiro montado pela direção nacional do partido de “grande trapalhada”:

— A gente fica triste, porque de qualquer forma todos são quadros partidários que já foram punidos na política. Porque o Dirceu foi cassado. Não é pouca coisa isso. Para mim, é uma pena de morte a cassação. Por isso que eu digo, o filme está passando de novo. Eu desconheço a compra de apoio. O que eu sei é de uma arquitetura para fazer mil e tantas prefeituras em 2004, para chegar com mais musculatura na reeleição do Lula — disse. — E aí, na minha opinião, foi a grande trapalhada. Porque é óbvio que para fazer mil e poucas prefeituras você teve de chamar todos os partidos aliados. Então, o caboclo sai se virando para arrumar apoio financeiro, doação para campanha. A história toda é essa.

O governador comenta ainda sobre a situação pessoal dos réus petistas:
— Todos eles já tiveram um julgamento público. Não tem quem não pagou constrangimento pessoal e de família.

E faz também uma crítica às sentenças e à exposição do Supremo Tribunal Federal (STF):

— Sentença de juiz não se discute, mas isso (as condenações) está no campo de uma interpretação muito perigosa. O (Ricardo) Lewandowsky está proibido de dar opinião contrária à do Joaquim (Barbosa) porque um vira herói e o outro... Ele é um dos 11 membros da mais alta Corte. Quer dizer que tudo o que ele falar está contaminado porque está contra o senso comum do que todo mundo acha?

Comandante do maior colégio eleitoral governado pelo PT, Jaques Wagner considera que o resultado das eleições deste ano, que mostraram uma ascensão de oposicionistas em capitais das regiões Norte e Nordeste, pode estar sinalizando um princípio de desgaste do PT no comando do Governo Federal.

— Querer descobrir (dizer o que vai acontecer) 2014 nesta eleição é precipitado. Agora, é óbvio que todo mundo tem desgaste. Nós vamos com a Dilma para 12 anos. O povo gosta de ver alternância, e graças a Deus que gosta — ponderou.

Indagado sobre o que fazer para evitar a saída do poder, Wagner surpreendeu:
— Não tem que fazer nada, tem que respeitar o bem-vindo senso de alternância do poder do povo, senão ia ficar muito chato. Eu vou trabalhar sempre para ganhar, é evidente. Se eu dissesse que vou trabalhar para perder... Só se eu estivesse louco. Agora, é evidente que o povo trabalha assim. Porque todo mundo que está aqui (no poder) faz, mas também deixa de fazer muita coisa.

Influência de Lula

A admissão do desgaste, no entanto, está longe de sinalizar uma insatisfação do governador com o resultado eleitoral do PT, o único ao lado do PSB, entre os grandes e médios partidos, que aumentou o número de prefeituras entre 2008 e 2012.

Ele destaca a expansão no número de prefeituras conquistadas especialmente na Bahia, onde celebra um crescimento de cerca de 25%. Wagner diz, no entanto, que o sucesso é fruto de diversos fatores e condena a simplificação em torno da força dos padrinhos políticos:

— Quando 50% dos eleitores dizem que, se Lula indicasse, votariam no candidato, o que eles querem dizer é que o Lula é uma boa companhia. Não significa que eles vão votar. Acho que o Lula continua sendo uma ótima companhia, a Dilma também, mas não é assim (automático).

O GLOBO