terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

África e América Latina têm nomes fortes


Imediatamente após o anúncio da renúncia de Bento XVI, começaram a circular nomes de cardeais que poderão ocupar o cargo máximo da Igreja - com destaque para a hipótese de o próximo pontífice poder vir de um país em desenvolvimento, como o Brasil, ou da África. Seja quem for, o sucessor de Joseph Ratzinger terá pela frente questões que já são um desafio para o episcopado, como os escândalos de abusos sexuais envolvendo religiosos, a homossexualidade, o aborto e o papel da mulher na Igreja.
A renúncia de Bento XVI abre finalmente um debate sobre o futuro da Igreja, algo que muitos acreditam que não ocorreu diante da decisão apressada para escolher um substituto para João Paulo II, morto em 2005. Quase oito anos depois, há quem acredite que a instituição aproveitará os dias do atual pontificado, que se encerrará em 28 de fevereiro, para fazer com que a escolha do sucessor de Ratzinger tenha relação mais direta com os caminhos que a Igreja decidir adotar para seu futuro. "Desta vez, a real transição para o século 21 talvez finalmente ocorra na Santa Sé", declarou ao Estado um importante religioso latino-americano que pediu anonimato.
Um dos nomes citados é do africano Peter Turkson, de Gana. Um de seus cabos eleitorais já fez questão de defender ontem mesmo seu nome. "Por que não um africano? Já tivemos um alemão e um polonês. Então, o próximo pode ser, sim, africano", declarou o arcebispo Gabriel Charles Palmer-Buckle.
Bento XVI nomeou o ganense para um dos cargos mais importantes do Vaticano, e ele passou a ser enviado a diversos países como mediador de conflitos. Em 2010, chegou a acompanhar o papa em viagens, o que aumentou as especulações sobre seu nome. Mas ele não é o único cotado. O cardeal sul-africano Wilfrid Napier, de Durban, é outro candidato, ainda que oficialmente ninguém se apresente.
Nas casas de apostas de Londres, a corrida já começou. Em pelo menos duas delas, Turkson é o favorito, seguido pelo arcebispo de Milão, Angelo Scola. Outro nome é o de Oscar Rodríguez Maradiaga, de Honduras. Amante de jazz, amigo de Bono Vox e frequentemente acompanhado de seguranças em seu país de origem, o cardeal centro-americano tem a simpatia das alas do Vaticano que defendem uma agenda social mais explícita. "Um papa do sul sem dúvida ajudaria a resolver muitas das ameaças que o planeta enfrenta", disse há dois meses.
O canadense Marc Oullet e o nigeriano Francis Arinze também aparecem com chances.
Na casa Ladbrokes, d. Claudio Hummes está na décima posição. Mas, no Vaticano, são outros os brasileiros que aparecem com mais força, pois d. Claudio já tem 78 anos. Um dos nomes mais citados é o de d. João Braz de Aviz, de 65 anos. D. Odilo Scherer também é considerado "papável" e ontem fugiu da imprensa em Roma.
As especulações sobre a possibilidade de o novo papa vir da América Latina não são à toa. A região tem hoje metade dos católicos do mundo e os cardeais são vistos como alguns dos maiores defensores da Igreja. "Conheço muitos bispos e cardeais latino-americanos que poderiam assumir essa responsabilidade", disse Gerhard Muller, chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.
Mesmo rumo. Para Hans Kung, teólogo suíço e considerado um dos principais adversários de Bento XVI, dificilmente a Igreja vai sofrer uma revolução. "Ele ordenou muitos cardeais conservadores", apontou Kung. Segundo ele, isso determinaria a próxima votação. Ele disse esperar que Bento XVI não influencie na escolha.
Outros ainda apontam que a forma como Bento XVI anunciou sua saída estaria relacionada a um cálculo claro de dar tempo aos cardeais e à cúpula da Igreja de debater de fato seu destino.
"Cardeais terão agora a opção e o tempo de fazer o que não fizeram em 2005, que é debater o futuro da Igreja", disse Raymond Perrier, diretor do Instituto Jesuíta da África do Sul.
ESTADÃO