domingo, 17 de maio de 2015

A BOLHA IMOBILIÁRIA (QUE NÃO EXISTIA) AGORA DESAFIA O GOVERNO

Carlos Newton

 
De repente, o governo descobriu que há graves problemas em um dos mais importantes setores da economia, a indústria imobiliária, que é inteiramente dominada por empresas nacionais, garante milhões de empregos de mão de obra pouco qualificada e só utiliza matérias-primas e produtos manufaturados made in Brazil.

Já faz alguns anos que estamos advertindo aqui na Tribuna da Internet sobre a formação da bolha imobiliária brasileira, que é muito peculiar, porque difere das que explodiram no colo dos governos do Japão e dos Estados Unidos na década passada e até hoje causam problemas.

No caso do Brasil, como nosso sistema de compra e venda não inclui a possibilidade de hipotecas sucessivas, a bolha existe, mas não estoura.

 Vai esvaziando bem devagarinho, mas neste longo processo acaba fazendo milhões de vítimas, com empresas parando os investimentos e até indo à falência, o que aumenta o número de desempregados e espalha a crise para os fornecedores de matérias-primas e equipamentos. 

Além disso, muitos mutuários são obrigados a devolver imóveis ou revendê-los a preço vil, por não conseguirem arcar com o pagamento das prestações.

Quando publicamos as primeiras matérias na Tribuna da Internet, houve muitos comentários negativos, enviados por pessoas que estavam eufóricas com a meteórica avaliação de seus imóveis, o movimento ainda era de empolgação, embora as empresas do setor já estivessem exauridas e lutando para retardar a paralisação das vendas.

GOLPE DA PIRÂMIDE

O fenômeno imobiliário funcionou como o golpe da pirâmide.

 Quando o governo foi reduzindo a taxa de juros, muitos rentistas abandonaram os fundos e migraram para a compra de imóveis, causando aumento da demanda e alta dos preços, que realmente dispararam, em todo o país. 

Mas tudo tem limite. 

E quem compra por último fica com o mico/prejuízo na mão.

A crise começou em 2011 e as entidades representativas do setor passaram a seguir o exemplo do governo, caprichando na maquiagem das estatísticas, com apoio irrestrito da grande mídia, que tem no mercado imobiliário um de seus principais anunciantes. 

Dizia-se, enganosamente, que a realização da Copa era garantia real da valorização dos imóveis.

 Tudo conversa fiada, enquanto as empresas espertamente passavam a investir em cidades de porte médio, mas o mercado delas também logo se esgotou.

Aqui no Rio, depois da Copa passaram a usar o argumento da Olimpíada, mas o mercado continuou deprimido.

 Começaram então as grandes promoções, com abatimentos e ofertas espetaculares.

 A empresa Rossi dava R$ 60 mil de desconto na venda de qualquer imóvel, residencial ou comercial. 

Outras concorrentes chegaram a ponto de oferecer um automóvel zero quilômetro na garagem ou a decoração completa do imóvel. 

Mesmo assim, as vendas não se recuperaram.

DESEMPREGO EM ALTA

A crise é cada vez mais profunda. 

As estatísticas recentes mostram que de fevereiro/2014 a fevereiro/2015 a indústria da construção civil fechou cerca de 222 mil postos de trabalho.

 É claro que já não se trata apenas do setor imobiliário, agora também as empreiteiras estão com o pé no freio.

O governo só percebeu o problema quando afetou seu braço eleitoral imobiliário, o programa Minha Casa, Minha Vida, porque a Caixa Econômica não tem mais recursos disponíveis para mantê-lo, há muita inadimplência, a confusão é geral.

 A equipe econômica (leia-se: Joaquim Levy) quer buscar recursos no FGTS e liberar depósitos retidos no Banco Central, mas em volume menor do que o pedido pelas construtoras, para não pressionar a inflação.

Sonhar não é proibido.

 Garantir mais recursos ao setor (fala-se em R$ 40 bilhões) só vai maquiar ainda mais a crise, porque o que na verdade falta são compradores.

 Os preços dos imóveis ainda estão caindo muito devagar, devido à manipulação das supostas tabelas de cotação nas grandes cidades, ardilosamente feitas mediante o valor das ofertas nos classificados e não com o preço real da venda nos cartórios.

A lei da oferta e da procura, infelizmente, não é passível de ser derrubada por decreto, mas a economista Dilma Vana Rousseff não sabe disso, certamente porque faltou a esta aula em seu inconcluso curso de doutorado.

 Mas se ela não tinha feito mestrado, como podia estar fazendo doutorado? Não dá mesmo para entender…

Tribuna da Internet