Vicente Nunes
Correio Braziliense
Correio Braziliense
Assim que tomaram posse, os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do
Planejamento, Nelson Barbosa, anunciaram novos tempos na economia. Além
de medidas fundamentais para arrumar a casa e reverter todo o estrago
provocado nos quatro primeiros anos do governo de Dilma Rousseff, como a
meta de superávit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB),
comprometeram-se com um valor fundamental para um país que, dia após
dia, vem se deparando com denúncias de corrupção: dar transparência à
administração pública.
Depois de quase cinco meses no cargo, nem Levy nem Barbosa dão
demonstrações claras de que vão cumprir o que prometerem no quesito
transparência. As pastas que comandam continuam funcionando como
verdadeiras caixas-pretas.
Conseguir informações relevantes à sociedade é
quase impossível, sobretudo se os dados desvendarem mamatas e o
descalabro em várias áreas do governo.
Tente, por exemplo, saber da Fazenda e do Planejamento quantos são os
assentos que o governo tem em empresas estatais, cargos que são
repartidos entre um grupo restrito de servidores públicos e indicados
políticos selecionados pelo Palácio do Planalto.
Cobre do Departamento
de Controle das Estatais (Dest), órgão vinculado a Barbosa, informações
sobre as empresas que vêm colocando em risco o ajuste fiscal. No máximo,
receberá respostas genéricas, que desrespeitam a inteligência.
INTERESSES ESCUSOS
É inaceitável que seja assim. O mais assustador, porém, é que não há
perspectiva de mudança. A máquina pública foi construída para facilitar
malfeitos, viabilizar grupos com o objetivo claro de enriquecer às
custas dos contribuintes. Transparência não combina com esses interesses
escusos.
Pode ser que até Levy e Barbosa venham a surpreender ao romper com
esse modelo nefasto. Os dias estão correndo. Enquanto mantiverem os
olhos fechados, os malfeitos prevalecerão e milhões de reais continuarão
escorrendo diariamente pelos ralos da corrupção.
O custo da falta de transparência para o país é elevado. Em seminário
semana passada, Cristiano Herckert, secretário de Logística e
Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, foi enfático:
“Abrir dados é uma forma de gerar desenvolvimento econômico e social
para nosso país”.
Pena que nem mesmo os colegas de trabalho dele
acreditem nisso. Se acreditassem, contribuiriam para a grande revolução
que todos anseiam: um governo que não tem medo de se mostrar.
Tribuna da Internet