Percival Puggina
A democracia (governo de todos), não é necessariamente aristocracia
(governo dos melhores). E será sempre tão sensível à demagogia quanto a
aristocracia é sensível à oligarquia. Portanto, numa ordem democrática,
como tanto a desejamos, é necessário estabelecer instituições que, na
melhor hipótese, induzam os agentes políticos a comportamentos virtuosos
ou, com expectativas mais modestas, inibam as condutas viciosas.
Ora, o
modelo político brasileiro parece ter sido costurado para compor
guarda-roupa de cabaré. Não há como frear a corrupção que se nutre num
modelo institucional que a favorece tão eficientemente, seja na ponta
das oportunidades, seja na ponta da impunidade, vale dizer, pela via das
causas e pela via das consequências. Não estou falando de leis que a
combatam, mas de um modelo político que a desestimule.
Como? Adotando procedimentos e preceitos comuns nas Forças Armadas.
Libertando a administração pública dos arreios partidários, por exemplo.
Ao entregar para o aparelhamento partidário a imensa máquina da
administração (que a mais elementar prudência aconselharia afastar das
ambições eleitorais), o Brasil amarra cachorro com linguiça e dá
operosidades e dimensões de serraria industrial ao velho e solitário
“toco”. “É politicamente inviável fazer isso no Brasil”, estará pensando
o leitor destas linhas em coro com a grande maioria dos que, entre nós,
exercitam poder político. Eu sei, eu sei. Não sou ingênuo. Está tudo
errado, mas não se mexe. As coisas são assim, por aqui.
APARELHAR O ESTADO
Do mesmo modo como a fusão do Governo (necessariamente partidário e
transitório) com a Administração (necessariamente técnica e neutra
porque permanente no tempo) cria problemas e distorções de conduta, a
fusão do Governo com o Estado (que, por ser de todos, não pode ter
partido) faz coisa ainda pior no plano da política interna e externa.
Desde a proclamação da República, todo governante trata de aparelhar o
Estado e exercer influência sobre suas estruturas.
Por fim, quero lembrar que o relativismo moral veio para acabar com a
moral. O novo totalitarismo elegeu como adversário os valores do
Ocidente. Multidões, sem o perceber, tornaram-se moralmente sedentárias.
Abandonaram os exercícios que moldam a consciência e fortalecem a
vontade. Ao fim e ao cabo, em vez de uma sociedade onde os indivíduos
orientam suas vidas segundo os conceitos que têm, constituímos uma
sociedade onde os indivíduos conformam seus princípios e seus valores à
vida que levam.
Tribuna da Internet