Eduardo Militão
Correio Braziliense
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Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, coordenador da
força-tarefa da Operação Lava Jato, é preciso investigar o “lobby para o
PT” porque isso ainda não está claro para a Polícia Federal e
integrantes da força-tarefa do Ministério Público.
O lobista Milton Pascowith, que atuava para várias empresas, entre
elas a Engevix, repassou R$ 1,4 milhão para a JD Consultoria, empresa do
ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, de acordo com dados da Receita
Federal.
O vice-presidente da Engevix, Gérson Almada, afirmou que fez
doações oficiais ao PT indicadas pelo lobista, inclusive para ter bom
relacionamento com a Petrobras e o partido. “Por que esse filtro?
Precisamos saber qual o objetivo dessas doações”, disse Carlos Fernando,
em entrevista coletiva na manhã de hoje, na Superintendência da PF em
Curitiba. “Se são lavagem de dinheiro ou só doações, ainda vamos ver”.
Em nota, a assessoria de Dirceu disse que o dinheiro para Pascowith
se referia a serviços para a Engevix, mas a empreiteira nega contratado
os serviços especificamente nesse caso.
Almada disse que todos os
pagamentos aos lobistas eram atividades de representação, e não se
tratava de propina. “O que ele chama de lobby, nós chamamos de
corrupção”, diz Carlos Fernando.
Em denúncia apresentada à Justiça, o Ministério Público disse que o
então tesoureiro do PT João Vaccari Neto sabia que recebia doações
eleitorais originadas em desvios da Petrobras. O petista virou réu por
lavagem de dinheiro.
OPERADOR DA OPOSIÇÃO
As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público colidem
com o argumento de parte dos deputados federais do PP de que não
receberam dinheiro de corrupção do esquema da Petrobras.
O grupo que
fazia oposição aos ex-líderes da legenda na Câmara Mário Negromonte (BA)
e João Pizzolati (SC) e assumiu a sigla afirma que não poderia receber
propinas porque a operação era feita pelo doleiro Alberto Youssef, que
não tinha contato com eles.
Mas, segundo o próprio doleiro e o
ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, o grupo
dissidente tinha seu próprio operador: Henry Hoyer.
O procurador Carlos Fernando, ele atuava para a “ala do partido que
havia se rebelado”. Essa ala tinha entre seus líderes o deputado
Aguinaldo Ribeiro (PB) e figuras como Jerônimo Georgen (RS).
Segundo o
Ministério Público, o objetivo era minar inclusive a tentativa de
Youssef tornar-se o sucessor do ex-deputado José Janene (PR) na
distribuição do dinheiro.
Ontem, Hoyer foi alvo de um mandado de busca em seus endereços em
Itanhandu (MG), onde nada de importante foi encontrado, e no Rio de
Janeiro.
No Rio, os policiais apreenderam documentos e localizaram
munição de calibre 45, de uso restrito, um revólver 38, uma winchester e
uma garrucha, segundo delegado regional de Combate ao Crime Organizado
da Polícia Federal, Igor Romário de Paula. Como não tinha registro das armas, Hoyer
foi preso por porte ilegal de arma de fogo.
OBRAS DE ARTE
A Polícia Federal identificou ainda que Pascowith repassava valores
para o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque por meio de
obras de arte.
Hoje, foram apreendidas 60 obras pela Polícia Federal. Na casa do
operador, foram 20 quadros e duas esculturas.
Na casa de seu irmão,
Adolfo Pascowith, alvo de mandado de condução coercitiva e busca, foram
40 quadros. Adolfo acabou sendo ouvido em sua casa, em São Paulo, e foi
liberado pela Polícia Federal.
Segundo Igor, o ex-diretor indicava a obra de arte para o operador, com a compra em espécie e repassava o quadro já registrado para o nome
do ex-diretor da Petrobras. O delegado afirma que também havia repasses
de dinheiro vivo para Duque. Pascowith não atuava apenas para a Engevix.
Segundo Carlos Fernando, havia outras empresas, como a UTC Engenharia.
NAVIOS E SONDAS
A prisão de Pascowith é mais um reforço na intenção da Polícia Federal, revelada
pelo Correio em janeiro, de investigar a fundo o mercado de navios e
sondas para exploração de petróleo. Isso porque Pascowith atuava para
estaleiros, como o ligado à Engevix, o ERG, no Rio Grande do Sul.
Além
disso, Paulo Roberto Costa disse que todas as diretorias – inclusive a
de Exploração e Produção – negociavam propina de 3% com as empreiteiras.
Entretanto, não surgiram, ao menos até o momento, provas ou simples
acusações de que ex-diretores da área de exploração tivessem recebido
propinas.
Tribuna da Internet