Pedro do Coutto
É sem dúvida um belo filme o que o diretor Nelson Honeiff realizou
sobre a vida do cantor Cauby Peixoto, destacando sua ascensão, seu
sucesso extraordinário, seu afastamento e agora sua lembrança de belos
momentos passados.
O filme atravessa o tempo da memória e da melodia
destacando os momentos emocionantes que marcaram a vida do artista, os
quais ficarão para sempre na história da música popular brasileira, e
também de suas interpretações de obras musicais americanas.
Cauby é um
artista versátil, múltiplo, expressivo e que ao longo de sua carreira,
levantada pelas lentes de Honeiff, demonstrou ter ao mesmo tempo um amor
intenso pela sua arte, sua vida de artista e pelo público que o
consagrou.
Belo filme, como disse no título o encontro da arte com a
emoção.
A sensibilidade de Cauby Peixoto emerge das décadas em que sua
estrela brilhava nos palcos da vida musical e das suas interpretações
personalíssimas.
Dono de voz privilegiada, cruzou as marcas do tempo,
como disse sobre ele Maria Betânia, passeando pelas melodias que cantou e
com elas encantou multidões.
Foi o intérprete de um dos maiores
sucessos da música popular brasileira,”Conceição”, de Jair Amorim,
sucesso ao mesmo nível daqueles que marcaram “Vingança”de Lupicínio
Rodrigues e a “Banda” de Chico Buarque.
Nas décadas de 50 e 60 não se
passava numa esquina, na porta de uma loja de discos sem que não se
ouvisse as belas letras que marcaram os êxitos populares gigantescos.
“Conceição” na voz de Cauby, “Vingança” na voz de Linda Batista, a
“Banda” na voz do próprio autor.
GRANDES INTERPRETAÇÕES
O filme inclui vários depoimentos sobre sua vida e sua arte todos
eles destacando sua altíssima qualidade e forte presença no domínio da
voz das interpretações e a condução dos ritmos.
Foram interpretações
inesquecíveis as que o filme apresenta, ele cantando “New York, New
York” e “I’ve got you under my skin”, além de apresentações de rock and
roll.
Como a “Dança das horas”, de Bill Harley, que marcou uma ruptura
com a melodia tradicional.
Pouco após sua presença no rock gravou seu
maior sucesso, “Conceição” e aí reencontrou em si mesmo a forma de
voltar a interpretar canções românticas.
Entre elas, “Mulambo” que, na
sua voz ganhou uma importância que não havia se evidenciado
anteriormente.
Estou falando do final dos anos 50 e como não podia
deixar de ser Cauby cantou também versos e acordes inesquecíveis de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes.
Tom e Vinícius eternizaram-se na música
popular brasileira, dando início a uma nova ruptura da interpretação
musical.
Com eles surgia a bossa nova em 1958 e 59. “Conceição” é de
1956, mesmo ano do lançamento de “Mulambo”.
Só que Vinícius e Tom romperam com uma estrutura musical, mas não
romperam com a poesia.
Ao contrário do que acabaria sucedendo mais tarde
com o rock que deixou completamente de incluir no seu contexto o
caminho poético substituindo-o pela dança e fortes movimentos corporais.
Mas esta é outra questão.
O que desejo dizer é que valeu muito a pena
assistir o filme ao lado de Elena, minha mulher que também se comoveu.
Aliás, foi dela a ideia de ver a fita.
Ao terminar a sessão, entre
outros na plateia, éramos dois emocionados.
Imagine-se por aí a emoção
do próprio Cauby Peixoto ao acompanhar o filme sobre si próprio
incluindo depoimentos e explicações sobre suas diversas fases na
carreira. Diversas fases?
UM JOVEM FÃ
Um adolescente entre 15 a 17 anos coleciona tudo sobre Cauby Peixoto,
discos, CDs, revistas, enfim segue sua trajetória até hoje e se
emociona às lágrimas quando do artista se aproxima num show em São
Paulo.
O adolescente tornou-se um personagem da história lindamente
narrada por Honeiff e que sintetiza em si a passagem da arte de um tempo
para outro, do passado para o presente.
E olha que ele não era nascido
quando Cauby Peixoto cantou “Conceição” pela primeira vez.
O fã apaixonado pela arte de Cauby tornou-se no plano de Honeiff uma
testemunha importante a demonstrar que a beleza das canções é eterna.
Foi um momento de emoção a lágrima que lhe caiu sobre a face jovem,
comprovando assim o que deverá ser eternizado na música popular
brasileira.
Em Cauby o encontro da arte com a emoção fica para sempre.
Confesso que no final da sessão, em Ipanema, as lágrimas não foram só
dele.
Tribuna da Internet