Fernando Canzian
Folha
Enquanto o Ministério da Fazenda persegue cortes de quase R$ 70
bilhões no Orçamento deste ano e o Banco Central aumenta os juros contra
a inflação, os mais pobres seguem sofrendo proporcionalmente mais nesta
fase do ajuste.
Via desemprego e inflação. A inflação acumulada em 12
meses para as famílias que ganham menos (2,5 salários mínimos; cerca de
R$ 2.000) foi de 9%, quase um ponto acima da média geral prevista para
maio.
Essas famílias representam nada menos do que dois terços do Brasil.
Entre elas, a inflação é mais elevada por conta de gastos
proporcionalmente maiores com energia, água, alimentos e transportes.
Chegam a gastar 40% da renda com alimentação e 10% com transporte.
Qualquer diminuição do poder de compra desse pessoal significa cortar
na carne, já que gastos supérfluos são muito reduzidos nesta faixa de
renda.
Os gastos das famílias sustentaram durante anos a fio a economia
brasileira e respondem por cerca de 60% do PIB (Produto Interno Bruto).
Agora, estão em queda. Caíram 1,5% no primeiro trimestre do ano.
DESEMPREGADOS
No emprego, o trimestre encerrado em abril mostrou que o número de
desempregados no país chegou a 8 milhões. Um aumento rápido, de 18,7%
(ou 1,3 milhão de pessoas a mais), em relação ao trimestre encerrado em
janeiro.
Isso levou a taxa de desemprego no Brasil para 8% no trimestre até
abril (7,1% no mesmo período de 2014).
Estatisticamente, o desemprego
sobe neste momento muito mais por conta do aumento do número de pessoas
procurando trabalho do que pela diminuição das vagas.
É um claro indício de que o orçamento familiar apertou. Quem só
estudava, por exemplo, começa a se sentir premido a reforçar a renda
doméstica, aumentando a taxa de desemprego.
Já o corte de vagas tem se concentrado bastante em setores de
salários menores, como serviços e construção civil, de onde essas
famílias tiravam parte da sua renda.
E VAI PIORAR…
Além da inflação mais elevada entre os de menor renda e aumento do
desemprego, as famílias brasileiras sofreram uma abrupta interrupção na
oferta de crédito e aumento dos juros.
Na última década, o volume de crédito na economia dobrou até atingir
55% do PIB. O que crescia a taxas de 40% ao ano agora mal passa de 10%.
Os juros médios saltaram de 30% ao ano há dois anos para 42% agora.
Para onde se olha, no médio prazo as coisas ainda devem piorar antes
de começarem a melhorar. E quem tem menos, como sempre, vai sofrer mais.
Tribuna da Internet