quarta-feira, 16 de setembro de 2015

DEPOIS DOS FRANGALHOS, A DISSOLUÇÃO

Carlos Chagas

Pudesse a nação exprimir-se por uma só voz e um grito de repúdio seria ouvido no Brasil inteiro: “NÃO!” Para demonstrar que toda regra tem exceção, das principais corporações nacionais, a concordância com o pacote de maldades do governo Dilma veio da Febraban, a federação dos bancos. Fora dela, Congresso, Judiciário, empresariado, sindicatos, funcionalismo, universidades, classe média, ricos, pobres e até a torcida do Flamengo  rejeitaram as medidas de contenção anunciadas segunda-feira  pelos ministros da Fazenda e do Planejamento.

Cada categoria só sai menos prejudicada do que o conjunto, sem a contrapartida de que, assim, sairemos do fundo do poço. Aumentam-se os impostos.  Desmantelam-se os programas sociais que Madame jurou não seriam atingidos. Interrompem-se as obras do Programa de Aceleração do Crescimento. Fragilizam-se as estruturas do poder público com a suspensão dos concursos e do preenchimento de vagas na administração federal.

Proíbem-se reajustes salariais e eliminam-se abonos para quantos continuam trabalhando depois de conquistado o direito à aposentadoria. Eliminam-se recursos de custeio da máquina do Estado. Cortam-se incentivos para educação e saúde, assim como para a subvenção de preços agrícolas. E muito mais que a empolada linguagem oficial não conseguiu traduzir ou explicar, certamente por vergonha da própria incompetência. O máximo da fragilidade dos donos do poder exprimiu-se na sugestão da volta da CPMF, fatal para todo mundo.

Como a maioria dessas propostas dependerá de projeto de lei ou de emenda constitucional, a conclusão é de que o Congresso deverá rejeitá-las, ou seja, nenhuma solução.

Resta ao governo pedir para sair, abrindo as portas para a maior dúvida de agora: colocar o quê ou quem no lugar?  Entregar a administração aos bancos não vai dar, tendo em vista que o principal artífice desse fracasso antecipado é um de seus maiores representantes. Substituir Dilma Rousseff por Michel Temer equivale a trocar seis por meia dúzia. Imaginar um surto de arrependimento no PT redundará em nada, porque mesmo ficando contra as medidas anunciadas, os companheiros carecem de planos alternativos.

ATESTADO DE INOPERÂNCIA

Nem o Lula sabe o que fazer. Pretender que o PMDB se una ao PSDB para construir opções nem sequer consistirá em novidade, já que faltam-lhes pessoas, ideias e ânimo. Numa palavra, o governo acaba de passar em si mesmo monumental atestado de inoperância.  Do Palácio do Planalto e da Esplanada dos ministérios não sairá nada em termos de recuperação do país. Se antes estávamos postos em frangalhos, aproxima-se hoje a dissolução, quer dizer, a sombra da desobediência civil. Não pagar impostos por impossibilidade financeira será a ante-sala da inadimplência por convicção.

Tribuna da Internet