sábado, 16 de abril de 2016

Manifestação no Congresso poderá se transformar em uma tragédia

Carlos Newton

Embaixada da França agiu acertadamente ao dar instruções expressas aos diplomatas, funcionários e cidadãos franceses que se encontram no país, recomendando que não compareçam à manifestação de domingo, diante do Congresso Nacional. O embaixador Laurent Bili tem bons motivos para estar apreensivo, porque a situação realmente parece sinistra, com crescente possibilidade de acontecer uma tragédia.

O fato concreto é que, no desespero para evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o governo e o PT estão extrapolando e já chegaram ao ponto de “importarem” manifestantes de outros países, como os bolivianos que vieram de ônibus para participar do protesto. Também estão usando ônibus que prestam serviços ao governo e às estatais, como a Petrobras, aqui na Tribuna da Internet recebemos fotos e tudo o mais, enviados pelo comentarista Celso Serra, sempre atento à evolução do quadro político.
A imprensa mostra também que as tropas do “exército” dos movimentos sociais, tendo à frente os sem-terra de João Pedro Stédile e os sem-teto de Guilherme Buolos, estão engrossando os acampamentos montados no entorno do estádio Mané Garrincha, e esses militantes vêm sendo insuflados por ministros do atual governo, de forma totalmente insensata.
ROSSETTO E DILMA
Os ministros Miguel Rossetto e Patrus Ananias, que se licenciou para votar na Câmara, já estiveram no acampamento e fizeram discursos contundentes, claramente destinados a revoltar os militantes. Rossetto, por exemplo, disse que Michel Temer quer tomar o poder por meio de um golpe, “rasgando a Constituição e a democracia”
Logo em seguida, Ananias acusou as forças conservadoras, dizendo que “sempre foram contrárias ao Bolsa Família, ao BPC (Benefício de Prestação Continuada), ao cumprimento da função social da terra, querem tomar o poder”.
A própria presidente Dilma Rousseff deve ir ao acampamento neste sábado, a pretexto de reforçar a mobilização da militância, pois na quinta-feira uma equipe do Palácio do Planalto acertou com a organização do acampamento os detalhes da ida da governante petista ao local.
Portanto, só falta o Lula comparecer ao acampamento, para incitar ainda mais os militantes.
GRADE IMPROVISADA
Numa demonstração de absoluta leviandade, o governador do Distrito federal, Rodrigo Rollemberg, parece acreditar que pode cuidar disso sozinho, simplesmente mobilizando a PM e a Polícia Civil. Na tentativa de evitar que os militantes pró e contra entrem em confronto, mandou que se erguesse uma grade improvisada, que não resiste a um pontapé, e anunciou que vai colocar policiais e cães para impedir que as multidões entrem em conflito.
Se tivesse um mínimo de bom senso, o governador Rollemberg seguiria o exemplo do experiente embaixador francês e estaria hoje liderando uma campanha pelos meios de comunicação, para pedir que a população a favor do impeachment não compareça à Praça dos Três Poderes no domingo.
Além disso, deveria requisitar tropas de choque da Guarda Nacional e das Forças Armadas, mas não o fez, mostrando que é um administrador público de visão limitada, capaz de colocar em risco a segurança da população que o elegeu.
QUEM SE INTERESSA?
As lideranças do governo, do PT e dos movimentos sociais também são absurdamente irresponsáveis. Fazendo barulho do lado de fora, acreditam que conseguirão assustar os deputados e evitar o impeachment.
Mas acontece que no plenário os parlamentares só estarão preocupados com suas carreiras e com a imagem que irão passar a seus leitores. Com toda certeza, na hora de votar, com as câmeras da televisão a focalizá-los, estarão pouco se incomodando com o que estará acontecendo lá fora.
Por isso, é preciso insistir: se no domingo só houver diante do Congresso manifestantes contra o impeachment, eles não terão com quem se confrontar, os riscos de uma tragédia diminuiriam muito. Mas quem se interessa? Só o embaixador da França.
Tribuna da Internet