Flávio Ferreira
Folha
O coordenador da equipe de procuradores da Operação Lava Jato Deltan
Dallagnol afirmou que os congressistas ameaçados pelas investigações do
caso são aqueles que estão atuando na Câmara dos Deputados para aprovar
leis prejudiciais à operação e ao combate contra a corrupção. Em
entrevista à TV Folha, Dallagnol explicou como a força-tarefa de
procuradores está acompanhando os projetos de lei relacionados à
operação e disse que as manobras dos deputados transformaram o trabalho
na Lava Jato em um “trem fantasma”.
Dallagnol é um dos mentores do conjunto de propostas do Ministério
Público Federal intitulado “Dez medidas contra a corrupção, que se
transformou em projeto de lei de iniciativa popular após receber mais de
2 milhões de assinaturas.
Atualmente uma comissão especial da Câmara analisa o tema, sob
relatoria de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e deputados estão atuando para
modificar o texto original idealizado pelos procuradores da República.
Segundo Dallagnol, as tentativas de alteração ameaçam o futuro da Lava
Jato.
MUDAR A LEI – “Muitas pessoas que estão sendo
investigadas são as pessoas que fazem a lei, e elas podem mudar a lei
para nos atacar e mudar a lei para se proteger”, disse.
De acordo com o procurador, é preciso ficar atento às manobras dos
deputados. “A gente tem sido surpreendido a cada semana com um risco
novo. Trabalhar na Lava Jato se tornou como andar em um trem fantasma. A
cada esquina você toma um susto".
Dallagnol afirmou que a principal ameaça foi identificada na semana
passada, quando deputados se movimentaram para tentar votar em regime de
urgência um texto que poderia levar à extinção de penas e ações
criminais em caso de fechamento de acordos de delação premiada entre
empresas e o Executivo.
RECUO DO CONGRESSO – Houve reação da força-tarefa e
os congressistas recuaram. “O filho era tão feio que ninguém quis dizer
quem era o pai daquela criança”, comentou o procurador.
“Essa movimentação não acontece às claras. Quando ficamos sabendo
tivemos que tomar um decisão rápida. Ou a gente fazia uma [entrevista]
coletiva e firmava posição, ainda sem ter muita clareza do que estava
acontecendo, ou podia simplesmente passar esse projeto sem nossa
manifestação”, completou.
Dallagnol disse que o Ministério Público tem uma equipe de assessores
parlamentares que acompanha os trabalhos no Congresso, mas a sociedade
deve pressionar os deputados enviando mensagens e usando as redes
sociais para evitar as manobras.
SEM PODER – “Nós procuradores da Lava Jato não temos
poder econômico, não temos poder político. A nossa única defesa, o
escudo que defende a Lava Jato é a sociedade”, afirmou.
O coordenador da Lava Jato rebateu as críticas de que o Ministério
Público tenha adotado a estratégia de transformar a operação em um
espetáculo midiático e que a entrevista coletiva para divulgar a
denúncia contra o ex-presidente Lula tenha sido um exemplo dessa
conduta.
“Não podemos confundir espetacularização com transparência. O que
sempre existiu nas coletivas era uma explicação didática, inclusive com
esquemas visuais. Isso não se faz para expor ninguém, mas para prestar
contas à sociedade”, disse.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A Operação Abafa não nasceu só no Congresso. Pelo contrário, o próprio Planalto está empenhado nisso desde o governo Dilma Rousseff. Agora, na gestão de Michel Temer, a trama tem prosseguimento com apoio total dos caciques do PMDB, que são os atuais locatários do Planalto. (C.N.)