segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Falta pouco para as eleições, mas o maior problema do país não entra em discussão

Carlos Newton

Faltam cinco semanas para uma das eleições mais importantes da História Republicana, mas até agora não houve discussão sobre o principal problema do país. Na realidade, todos sabem que o Brasil vive uma crise terrível que parece não ter saída, com o crescimento desordenado da dívida pública, que aparentemente não tem solução, cada governo que entra e sai nada faz de concreto, apenas lava as mãos como Pôncio Pilatos. Os eleitores agem como se o problema não os atingisse, a mídia mal toca no assunto, não é nada fácil encontrar informações atualizadas sobre a dívida nos sites de pesquisa.
O fato concreto é que, seja quem for eleito, vai se defrontar com uma tenebrosa realidade. Encontrará um país falido que se tornou refém dos investidores e da elite do funcionalismo público, que conseguiu direito adquirido a salários e penduricalhos que fazem inveja a países já desenvolvidos e sem dívidas.
SILÊNCIO E OMISSÃO – Entre os 13 candidatos, apenas Ciro Gomes (PDT) costuma tocar no assunto, mas não entra em detalhes. Diz apenas que vai baixar os juros e encarar os banqueiros. Ou seja, nada de novo no front, porque a culpa não é só dos banqueiros, que devem ser trancafiados por uma série de outros crimes contra a economia popular, mas neste caso do irresponsável endividamento do poder público os bancos detêm menos de 25% da dívida.
Na última vez em que encontramos estatísticas a respeito, a divisão era assim: fundos de pensão e previdência (25,5%); fundos de investimento (25,2%); instituições financeiras (22,3%); não-residentes (12,1%); seguradoras (4,8%); governo (4,5%) e outros (5,6%).
Nenhum dos candidatos sabe o que fazer a respeito. Todos, inclusive Ciro Gomes, evitam falar sobre as contas públicas. Querem apenas chegar ao poder, para depois ver como é que fica.
FMI À ESPREITA – Os vampiros do FMI estão à espreita. Em abril, já avisavam sobre o risco do crescimento da dívida pública bruta, que inclui não apenas a dívida mobiliária da União, mas também a conta de juros dos papeis do Tesouro nas mãos do mercado interno e externo e os títulos usados nas operações compromissadas do Banco Central.
Em 2008, esse montante equivalia a 56% do PIB e somava R$ 1,470 trilhão. Dez anos depois, a dívida pública bruta atingiu em maio de 2018 um patamar inédito: 77% do PIB, o equivalente a R$ 5,133 trilhões, conforme o Banco Central. No entanto, se fosse utilizada a metodologia do FMI, que inclui na conta os títulos do Tesouro Nacional na carteira do BC e que somaram R$ 595 bilhões no quinto mês do ano, ou 8,9% do PIB, esse dado seria muito pior. Chegaria a 85,9% do PIB de R$ 7 trilhões, percentual acima da média dos países europeus e muito próximo aos 87% do PIB previstos pelo FMI para a dívida pública bruta brasileira no fim deste ano.
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P.S. – Os candidatos e os próprios eleitores podem fazer olhar de paisagem e fingir que está tudo no melhor dos mundos, seguindo a visão de Voltaire, mas a realidade é sinistra. Sem recursos, como governar? Seria interessante que os candidatos tocassem no assunto, mas quem se interessa?


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