quinta-feira, 19 de maio de 2011

Túlio: Futebol tem vários gays, que não assumem por receio


Eliano Jorge
A Alemanha está debatendo a intimidade sexual de seus jogadores. A Federação Alemã de Futebol e alguns atletas importantes vêm estimulando a boleirada a revelar sua homossexualidade. Entretanto, capitão na Copa do Mundo de 2010, o lateral Philipp Lahm desaconselha essa exposição. Por sua vez, o goleador Túlio Maravilha defende que o Brasil deveria importar essa iniciativa dos cartolas germânicos.
- Não só em relação à opção sexual. Também contra o racismo e principalmente à violência. Está tudo englobado. A CBF tem que aproveitar o Campeonato Brasileiro e, a cada período, fazer uma campanha nesse sentido. Está certa a Federação Alemã - avalia o ex-atacante da seleção brasileira, com 30 clubes nacionais e estrangeiros no currículo, artilheiro também em paternidade, com cinco filhos.
Ainda em atividade nos gramados aos quase 42 anos e vereador em Goiânia pelo PMDB, Túlio confirma que a homossexualidade está presente no esporte, como nos demais segmentos da sociedade.
- No futebol, tem vários casos, mas a maioria não assume por receio. Ninguém é bobo, todo mundo sabe quem é quem, mas é opção de cada um, e a gente respeita - atesta, em entrevista a Terra Magazine.

Ele conta que o segredo se rompe porque as informações correm entre os colegas.



- Tanto no passado quanto no presente, tem "n" histórias de "ah, fulano é, sicrano é (gay)". Mas ninguém vem a público declarar, então a gente respeita a privacidade dos atletas.

Embora pondere a chance de ocorrer discriminação, ele apoia a admissão da homossexualidade por atletas. Porém, condiciona: "Se o pessoal se sentir bem ao demonstrar sua preferência sexual".

E fala em tom de vereador:



- Pode ter uma certa resistência, mas acredito que declarar sua opção sexual é um direito de todo e qualquer cidadão, seja ele esportista, empresário, político, odontólogo. Acho que todo mundo deve assumir sua personalidade, não sou contra não - diz. - É um país democrático. Eu sou político, a gente tem que atender o apelo popular.

Apesar do cuidado com o discurso de representante do povo, Túlio já demonstrou não alimentar a homofobia e aceitou posar nu para uma revista voltada ao público gay em 2003. Claro, sob convencimento financeiro.
Coletividade
Amparado por sua vasta rodagem no futebol, o folclórico artilheiro garante que a exposição da orientação sexual de um atleta não atrapalha o ambiente interno de um time. "De jeito nenhum. Não tem nada a ver uma coisa com a outra", opina.
Túlio usa como exemplo o Botafogo de 1995, consagrado apesar do elenco rachado por outros motivos. "Fui campeão brasileiro e tinha divergências com outros jogadores, nem por isso dentro de campo a gente deixou de ser companheiro. Fora de campo, é uma coisa, agora dentro das quatro linhas há um só objetivo, que é defender as cores de seu clube", analisa.

O goleador saúda o desfecho da polêmica sobre Michael, do Vôlei Futuro, que havia sido hostilizado por torcedores do Cruzeiro:



- Foi ótimo ele assumir o que é, todo mundo deu força, acabou até punida a torcida adversária. Foi um exemplo de que a gente deve respeitar a individualidade de cada atleta.

Mil gols
Inspirado pelos feitos de Pelé e Romário, Túlio Maravilha calcula que marcou 958 gols na sua carreira e, atualmente sem clube, também busca o milésimo.
- Faltam 42. Acredito que, até o fim do mês, a gente tenha um time e, a partir de junho, dê caminhada ao projeto de novo.
Para isso, ele negocia com equipes das divisões mais modestas do Campeonato Brasileiro. "Pode ser Série D ou possivelmente Série C. A e B estão descartadas porque sou político e não tenho tempo para conciliar e me dedicar totalmente ao futebol", argumenta. TERRA MAGAZINE