sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Com Quattor, Braskem vira 8ª petroquímica do mundo


Braskem fará aumento de capital de até R$5 bilhões
* Petrobras entrará com R$2,5 bi e Odebrecht com R$1 bi
* Braskem continuará a ser controlada por Odebrecht
Por Cesar Bianconi
SÃO PAULO (Reuters) - A Braskem anunciou a incorporação da rival Quattor, em uma operação que cria a maior petroquímica das Américas. A empresa fará um aumento de capital de até 5 bilhões de reais, com garantia de aporte de 3,5 bilhões de reais pelos dois principais sócios, Odebrecht e Petrobras.
"No ranking global, ficamos entre as 10 maiores petroquímicas, precisamente em oitavo lugar", disse o presidente da Braskem, Bernardo Gradin. Segundo ele, a companhia era a 11ª no mundo em produção de resinas.
Gradin afirmou que a companhia "continua interessada na busca de ativos nos Estados Unidos", sem dar mais detalhes.
A aquisição da Quattor vinha sendo costurada há meses e esbarrava em questões societárias por disputas na família Geyer, que detinha o controle da empresa por meio da Unipar.
Pelo acordo firmado nesta sexta-feira, a Braskem vai adquirir 60 por cento das ações ordinárias da Quattor que pertencem à Unipar por 647,3 milhões de reais. Também pagará pouco mais de 50 milhões de reais pela Unipar Comercial e por uma fatia na Polibutenos.
Além disso, a Braskem assumirá obrigações da Unipar com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), relativos à participação do BNDESPar na Rio Polímeros, avaliada em entre 130 milhões e 170 milhões de reais e sem desembolso imediato.
A Petrobras detém os 40 por cento restantes do capital votante da Quattor, que serão repassados à Braskem em troca de ações de sua emissão para a estatal.
Com a Quattor, a Braskem terá uma capacidade de produção anual de 5,5 milhões de toneladas de resinas plásticas em 26 fábricas, praticamente um monopólio no país. Desse volume, ao redor de 1 milhão de toneladas são exportadas.
Apesar do domínio no mercado, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que não espera problemas de aprovação do negócio pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômico (Cade).
"O mercado petroquímico é cada vez mais caracterizado como mundial. Essa empresa vai ter um market share global de 3 a 4 por cento... Não temos uma visão de que a petroquímica é regional ou nacional", afirmou Gabrielli.
A operação será encaminhada ao Cade nos próximos dias. O aumento de capital e a compra da Quattor serão concluídas em até 120 dias, mas a incorporação só ocorrerá após o aval do Cade ao negócio, assegurou o presidente da Braskem.
AUMENTO DE CAPITAL
Como parte do processo de compra da Quattor, a Braskem fará um aumento de capital de 4,5 bilhões a 5 bilhões de reais para reforçar sua estrutura de capital e manter a flexibilidade financeira.
A Odebrecht se comprometeu a entrar com 1 bilhão de reais, enquanto a Petrobras com outros 2,5 bilhões de reais. O preço de emissão das novas ações foi determinado em 14,40 reais e os minoritários terão seu direito de preferência de subscrição.
Considerando que o aumento de capital da petroquímica fique no centro da faixa estimada, a Petrobras terá, após toda a reorganização societária, 40 por cento do capital votante da Braskem, segundo o vice-presidente financeiro da petroquímica, Carlos Fadigas.
Nesse cenário, a Odebrecht ficaria com 36 por cento do capital total da Braskem e a Petrobras com 34 por cento. Atualmente, a Odebrecht possui 38,4 por cento do capital total da Braskem e a estatal petrolífera outros 25,4 por cento.
Seja qual for o volume final do aumento de capital, a Odebrecht ficará com ao menos 50,1 por cento do capital votante da Braskem, garantindo que a petroquímica continue sob controle privado.
Concluídas algumas etapas da reorganização, Odebrecht e Petrobras firmarão um acordo de acionistas para compartilhar as decisões estratégicas.
Mas o Conselho de Administração de 11 integrantes terá sua maioria indicada pela Odebrecht, com seis assentos. A estatal terá quatro e um nome caberá aos minoritários. A Odebrecht também escolherá, na diretoria, o presidente-executivo e o vice-presidente financeiro.
GESTÃO DE DÍVIDA
O vice-presidente financeiro da Braskem afirmou que atualmente a dívida líquida de Braskem e Quattor juntas é de cerca de 13 bilhões de reais.
Se o aumento de capital atingir o máximo previsto, a dívida líquida cairá para ao redor de 8 bilhões de reais, o que implicaria em uma alavancagem inferior a três vezes a geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação).
Conforme Fadigas, a Braskem terá em caixa, após o aumento de capital e a incorporação da Quattor, dinheiro suficiente para quitar as dívidas do grupo com vencimento nos próximos dois a três anos.
Reportagem adicional de Denise Luna, no Rio, e Alberto Alerigi Jr., em São Paulo


Reuters Brasil