segunda-feira, 22 de novembro de 2010

EUA, Japão e Coreia do Sul se mobilizam após revelação de usina nuclear em Pyongyang

Os governos dos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul mostraram-se preocupados e tomaram medidas nesta segunda-feira após a revelação de que a Coreia do Norte construiu uma nova usina nuclear, feita no último fim de semana pelo jornal "New York Times".

O enviado especial dos EUA, Stephen Bowsorth, reuniu-se com o chanceler sul-coreano Kim Sung-Hwan já nesta manhã.

Após o encontro, o diplomata indicou que as revelações não são surpresa e não geram uma crise com os EUA, que devem ainda manter a possibilidade de um diálogo com o regime comunista. Mesmo assim Bosworth reiterou que as novas descobertas configuram uma "provocação".

Já o Japão considerou o assunto "alarmante".

'O desenvolvimento nuclear norte-coreano é totalmente inaceitável do ponto de vista da segurança do Japão e da paz e estabilidade na região', disse o porta-voz do governo de Tóquio, Yoshito Sengoku.

Em comunicado oficial, o Ministério de Defesa da Coreia do Sul indicou que as revelações constituem uma "séria preocupação" e vão contra as esperanças de que algum dia o regime comunista se desnuclearize.

CENTRÍFUGAS E USINA

Ainda no domingo o jornal "New York Times" revelou que um cientista americano da Universidade de Stanford informou à Casa Branca ter visitado uma grande e nova usina nuclear na Coreia do Norte.

O cientista que viajou a Pyongyang é o ex-diretor do Laboratório Nacional de Los Álamos e professor da Universidade de Stanford Siegfred S. Hecker que confirmou ao jornal ter visto "centenas de centrífugas" recém instaladas em grande e nova usina de enriquecimento de urânio que conta com uma "ultramoderna sala de controle".

O americano disse ter ficado surpreso com a sofisticação da nova usina nuclear.

Os norte-coreanos alegam que 2.000 centrífugas já foram instaladas e estão em funcionamento no local que Hecker teve autorização para visitar, segundo o "Times".

A publicação não soube informar, no entanto, a localização exata da nova instalação nuclear.

Mas o cientista disse que foi proibido de fazer fotografias e que não teve condições de confirmar a afirmação norte-coreana de que a central já está produzindo urânio levemente enriquecido.

"Há razões para questionar se isto é correto", declarou Hecker, que tem dúvidas sobre o fato de Pyongyang ser capaz de completar o projeto.

Fontes do governo americano afirmaram ao jornal que observaram por satélite a área onde se diz que a usina foi construída, mas não confirmaram se já tinham conhecimento de sua existência.

AJUDA EXTERNA

O jornal especula que Pyongyang, que fez o primeiro teste com uma bomba nuclear em 2006, só poderia ter alcançado este grau de desenvolvimento de suas instalações nucleares de maneira tão rápida com ajuda externa.

A nova usina observada por Hecker não existia quando os inspetores internacionais foram expulsos do país em abril de 2009.

O "Times" destaca ainda o fato de o regime de Pyongyang, assim como quaisquer potenciais colaboradores externos no setor, terem desacatado as rígidas sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

MEDIDAS DA CASA BRANCA

A Casa Branca já informou os aliados e congressistas sobre as revelações de Hecker, e agora esperando um debate global sobre as descobertas.

A revelação foi feita pouco antes da viagem à Ásia do representante americano para a Coreia do Norte, Stephen Bosworth, que pretende conversar com líderes regionais sobre o polêmico programa nuclear de Pyongyang.

Bosworth viajou no sábado a Seul e também passará por Tóquio e Pequim nos próximos dias.

O presidente americano Barack Obama advertiu recentemente que a Coreia do Norte deve demonstrar seriedade antes da possível retomada das negociações multilaterais sobre seu programa nuclear, que incluem as duas Coreias, China, Japão, Rússia e Estados Unidos.

Folha Online