terça-feira, 30 de novembro de 2010

Morador do Alemão sobre ocupação: comunidade está dividida


Ana Cláudia Barros
"Faltou água, faltou pão. Quem estava prevenido e tinha alguma coisa, tudo bem. Agora, quem não tinha... O comércio ficou fechado, os acessos estavam todos fechados. Infelizmente, o povo de comunidade compra apenas o essencial". O relato, feito a Terra Magazine, é de um morador do Morro do Alemão e retrata o isolamento da comunidade durante os primeiros momentos da ocupação da polícia, no último domingo (28), ao conjunto de favelas, classificado pelo secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, como "coração do mal".
Segundo o homem, que, por medo, preferiu manter em sigilo sua identidade, a troca de tiros assustou a população, que tenta retomar, pouco a pouco, a rotina.
- O clima ainda continua um pouco pesado, mas aos poucos está ficando tranquilo. O povo só vai voltar para a rua depois de uns quatro, cinco, seis dias de ocupação. É quando a gente vai começar a conhecer mais as coisas - afirma, informando que muitos ainda preferem o recolhimento.
Indagado sobre como a comunidade do Complexo do Alemão está encarando a presença da polícia, o morador respondeu que as opiniões estão divididas.
- Estamos aguardando os acontecimentos para ver como é que vai ficar. Eu não estou nada satisfeito. A comunidade está sendo revistada, eles (policiais) pedem documento. Tem gente que se incomoda, tem gente que não. Temos que conviver com essas coisas. Comunidade carente sabe que o procedimento é diferente do procedimento que acontece com quem mora lá embaixo. Infelizmente, é a realidade. - conta, referindo-se à varredura feita pelas forças policiais.
Questionado ainda se há comemoração pela perda de domínio do tráfico de drogas no local, o homem deixa vir à tona uma sinceridade desconcertante.
- A comunidade está tão acostumada com tráfico que consegue se acostumar com o outro lado da moeda. A gente tem que respeitar o procedimento da polícia e tentar conviver com eles da melhor forma possível. O importante é conseguir ir vivendo, ir levando a vida.
O ar resignado só cede espaço à irritação quando fala sobre as suspeitas de que criminosos estariam se refugiando em casas da favela.
- A imprensa divulgou que os bandidos estão na casa dos moradores. Isso não tem nada a ver. Morador não vai esconder bandido. Morador tem medo dessas coisas, mas aí o polícia chega e a porta está fechada. Bate e bate e ninguém atende e ali passa a ser uma casa suspeita. Por isso, os que saem deixam a chave da casa com o vizinho para evitar esse tipo de problema. Terra Magazine