O primeiro-ministro britânico, David Cameron, insistiu nesta quinta-feira que as tropas britânicas vão encerrar combate no Afeganistão até 2015, independentemente das condições de segurança ou dos progressos na luta contra os insurgentes do grupo islâmico Taleban.
Na véspera da cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Lisboa, "[na qual]": a retirada das tropas do Afeganistão será um dos temas centrais, Cameron disse em uma audiência com legisladores que o prazo para a retirada da maioria dos 10 mil militares britânicos não é negociável.
A reunião entre os países com tropas no Afeganistão, a UE e as organizações internacionais mais presentes no país, como a ONU e o Banco Mundial, além do próprio presidente afegão, Hamid Karzai, deve ocorrer no próximo sábado (20).
Na ocasião, será anunciado formalmente o início da transição da responsabilidade da segurança para as forças afegãos em alguns distritos mais seguros para o começo de 2011.
O processo deve ser ampliado progressivamente a todo o país até o fim de 2014, quando os combates seriam encerrados.
Mas, com a vitória ainda distante de ser declarada, a Otan e o Afeganistão devem assinar ainda um acordo de cooperação a longo prazo, para manter compromisso das tropas internacionais com a segurança do país.
"Até 2015, o Reino Unido terá desempenhado um papel enorme, dado uma contribuição enorme, feito enormes sacrifícios para um Afeganistão melhor, mais seguro e mais forte, e acho que o povo britânico merece saber que existe um ponto final em tudo isso", disse Cameron.
"É por isso que eu estabeleci o prazo de 2015, e sim é um prazo", completou.
Cameron fez sua primeira aparição perante o comitê do Parlamento, que realiza duas sessões a cada ano com o então primeiro-ministro para examinar a política em uma série de questões.
Desde que assumiu o cargo em maio, Cameron disse que seu governo reduziu as ambições no Afeganistão e reconheceu os perigos da queda da aprovação do povo britânico ao conflito.
Alguns dos principais aliados dos EUA na guerra já dizem publicamente que o caminho militar não é a melhor escolha para obter estabilidade no país. Nesta quarta-feira, o novo ministro de Defesa da França, Alain Juppe, disse em entrevista a uma rádio que o Afeganistão é uma armadilha para as tropas aliadas.
Milhares de ativistas devem chegar à capital portuguesa nesta sexta-feira para protestar pela retirada das tropas.
Ele disse ao painel que, logo após assumir, chamou especialistas de fora do governo para examinar o papel do Reino Unido na guerra --incluindo o ex-diretor de forças especiais tenente-general Graeme Lamb, o deputado e ex-diplomata Rory Stewart e Paddy Ashdown, um legislador da Câmara dos Lordes e ex-alto representante da ONU para a Bósnia.
"Desde então, [a estratégia britânica] tem sido muito mais focada na segurança nacional, mais obstinada em sua abordagem [...] e um pouco mais realista sobre o que é realizável", disse o premiê.
RECONCILIAÇÃO POLÍTICA
Cameron se recusou a dizer, especificamente, se o Reino Unido, os EUA e outros aliados estão em disputa sobre a reconciliação política no Afeganistão.
Ele disse que ia falar "com franqueza e como amigos" com os EUA sobre suas reservas quanto negociar com combatentes do Taleban, em vez de comentar em público.
Cameron alegou ainda que a forma como negociar a paz com o Taleban cabem ao governo do Afeganistão.
"A ideia e que há alguma grande discordância entre os países da aliança sobre a combinação de sucesso militar e solução política. Mas eu não acho que é o caso de todos", disse Cameron.
Cameron também defendeu o seu pacote de quatro anos de cortes de gastos e que foi obrigado a intervir pessoalmente entre o Ministério da Defesa e do Tesouro para chegar a um acordo sobre um corte de 8% no orçamento militar, para 37 bilhões de libras anuais (cerca de R$ 101 bilhões).
Folha Online