quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Coreia do Norte cava túnel para fazer novo teste nuclear, diz jornal

A Coreia do Norte está se preparando para um novo teste nuclear que poderia ocorrer em março próximo, informa o jornal sul-coreano "Chosun Ilbo".

Segundo o jornal, que cita uma fonte da inteligência sul-coreana, o regime comunista cava um túnel em um local já utilizado para este tipo de teste e que estaria pronto em março de 2011. O túnel indicaria a preparação para um terceiro teste nuclear --Pyongyang já alegou ter feito testes em outubro de 2006 e maio de 2009.

Analistas americanos e sul-coreanos observam atentamente as instalações nucleares norte-coreanas pro qualquer atividade fora do comum. Jornais sul-coreanos já relataram outros indícios este ano de que o país prepara mais um teste --como em outubro, quando um satélite dos EUA detectou aumento de atividade num local utilizado pela Coreia do Norte para testar armas nucleares.

Pyongyang mantém silêncio absoluto sobre seu programa nuclear. Analistas afirmam que um terceiro teste pode ser utilizado para ampliar o poder de negociação do país com as potências ou mesmo uma forma de Kim Jon-un, o filho e sucessor do ditador Kim Jong-il, moldar uma imagem de linha-dura e fortalecer seu apoio interno.

A quantidade de terra removida da instalação em Punggye, na região nordeste da Coreia do Norte, indica que o túnel tem cerca de 500 metros de profundidade, metade do necessário para realizar um teste nuclear, diz o "Chosun Ilbo".

"A Coreia do Norte está cavando bem fundo [...] em duas grandes instalações nucleares", disse o funcionário de inteligência citado pelo jornal. "Neste nível, o túnel de Punggye alcançará o um quilômetro necessário para um teste em março ou maio", uma outra fonte de inteligência disse ao jornal.

A Coreia do Norte também está ampliando seu trabalho de construção em seu complexo de Yongbyon, onde revelou uma nova instalação de enriquecimento de urânio no mês passado.

O Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul afirmou que monitora de perto o local e que, até o momento, não há evidência concreta de que os norte-coreanos estão preparando um terceiro teste.

DEFESA

O relato coincidiu nesta quarta-feira com um dos mais importantes exercícios de defesa civil da história da Coreia do Sul, tudo em um momento de extrema tensão após o bombardeio de uma ilha sul-coreana pela Coreia do Norte no fim de novembro.

As sirenes soaram às 14h locais (3h em Brasília) e marcaram o início do exercício de 15 minutos, durante o qual os sul-coreanos seguiram para 25 mil refúgios públicos, ao som de alarmes em Seul e outras localidades. Mais de dez aviões de combate sul-coreanos decolaram para simular um ataque da Coreia do Norte.

A Coreia do Sul, que mantém uma forte tensão com o regime comunista norte-coreano, realiza este tipo de treinamento civil desde 1975, mas o desta quarta-feira foi o de maior amplitude até o momento, segundo a Agência de Gestão de Desastres.

Os cidadãos, avisados sobre o exercício previamente, fugiram para os refúgios designados, como estações de metrô e outras instalações subterrâneas. Os motoristas precisaram deter seus veículos para abrigarem-se das bombas fictícias, o que ofereceu por alguns momentos a insólita imagem de uma Seul paralisada, frente à confusão que normalmente reina em suas ruas.

Normalmente, boa parte dos cidadãos, habituados a este tipo de operação, ignoram as sirenes e não respeitam as indicações, mas desta vez as autoridades obrigaram os veículos a parar e solicitaram que todos cumprissem as normas de segurança.

O exercício acontece três semanas depois do ataque norte-coreano contra a ilha sul-coreana de Yeonpyeong, que deixou quatro mortos e 18 feridos, aumentando a tensão na península.

PODEROSA

Nesta terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Philip Crowley, disse que a Coreia do Norte tem pelo menos outra usina de enriquecimento de urânio, além da já revelada em Yongbyon.

"Somos conscientes do fato de que, em recentes revelações a delegações americanas, o que eles viram não saiu do nada. Reflete certamente que há trabalho feito em pelo menos outro lugar", disse em entrevista coletiva.

Crowley expressou que este assunto continua sendo "uma área importante de preocupação" para o governo dos Estados Unidos, mas evitou fornecer detalhes sobre as informação obtidas pela inteligência americana.

Em novembro, a Coreia do Norte mostrou um complexo secreto para o enriquecimento de urânio ao ex-diretor do Laboratório Nacional dos Álamos (EUA) Siegfried Hecker.

Nesta terça-feira o jornal "The New York Times" citou fontes anônimas do governo de Barack Obama que acreditam que a nova usina utiliza tecnologia "significativamente mais avançada" que a que o Irã conseguiu desenvolver nas últimas duas décadas. Folha Online