segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Autor de "Lolita" estava certo sobre borboleta dos Andes

O escritor russo Vladimir Nabokov, autor do clássico "Lolita", estava certo quando, em um estudo especulativo de 1945, disse que as borboletas chegaram aos Andes vindas da Ásia em uma série de movimentos migratórios.

É isso que mostra uma pesquisa publicada recentemente na revista científica "Proceedings of the Royal Society", de Londres. O trabalho foi comandado por cientistas da Universidade de Harvard (EUA).

Nabokov aprofundou seus estudos sobre as borboletas durante seu exílio nos EUA, para onde fugiu em 1940 por causa do nazismo --isso depois de já ter saído da Rússia durante a revolução do país.

Em solo norte-americano, ele desenvolveu um método inovador para classificar esses insetos com base nos seus órgãos genitais.

Por ser tão especialista, chegou à curadoria do arquivos desses insetos no Museu de Zoologia da Universidade Harvard.

Em 1945, Nabokov especulou que as borboletas andinas da família Polyommatus tiveram origem na Ásia e chegaram ao Chile via Estreito de Bering.

Ele descreveu que elas saíram da Ásia há 10 milhões de anos e que fizeram cinco longas ondas migratórias rumo à América do Sul.

COMPROVAÇÃO

Na época em que os estudos de Nabokov vieram à tona, poucos cientistas levaram o russo a sério. Mas, desde a sua morte, em 1977, a sua reputação tem crescido.

Nos últimos dez anos, uma equipe de cientistas conseguiu comprovar a teoria de Nabokov por meio de sequenciamento genético.

Eles fizeram quatro expedições aos Andes em busca das borboletas.

De volta aos laboratórios, detalharam os genes da borboletas da família Polyommatus e, por computador, calcularam as relações mais prováveis entre elas. Também compararam o número de mutações de cada espécie encontrada.

Resultado: os pesquisadores descobriram que as espécies da América compartilhavam um ancestral comum que viveu há cerca de 10 milhões de anos na Ásia.

Ou seja: as borboletas andinas não são resultado evolutivo dos insetos da Amazônia, como alguns supunham, mas vieram mesmo da Ásia. O russo estava certo.

Os cientistas também confirmaram que os bichos viajaram pelo Estreito de Bering. Isso porque a linhagem da primeira borboleta Polyommatus que fez a viagem poderia sobreviver à temperatura compatível com o clima de Bering na época.

AMOR DE FAMÍLIA

O escritor russo herdou a paixão por borboletas de família. O pai lhe presenteou com um desses insetos na cadeia, quando foi preso pelas autoridades russas por conta das suas atividades políticas. Nabokov tinha oito anos.

Mais velho, o especialista russo começou a participar de expedições de caças a borboletas e passou a descrevê-las de acordo com suas características observáveis.

Apesar da paixão científica, ele ficou conhecido mesmo por suas obras literárias. Folha Online