O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, buscava algum tipo de acordo de troca de combustível nuclear há um ano, mas seus esforços foram vetados pelo bloco linha-dura do governo que o via como uma "derrota virtual", segundo documentos diplomáticos americanos divulgados nesta terça-feira pelo site WikiLeaks.
O documento sugere ainda que o Irã confiou mais no inimigo declarado Estados Unidos do que na aliada Rússia para seguir adiante com a proposta de troca de combustível. A ideia era que o Irã cedesse seu urânio enriquecido a 3,5% em troca de urânio a 20%, suficiente para servir de combustível para seu reator nuclear e bem abaixo dos 90% necessários para fabricação de bombas.
O plano da ONU (Organização das Nações Unidas) acabou rejeitado pelo Irã, que alegou poucas garantias de que receberia o urânio a 20%.
Em maio do mesmo ano, Teerã assinou um acordo similar com o Brasil e a Turquia. Mas o grupo do P5+1 --Reino Unido, Alemanha, China, França, Estados Unidos e Rússia--, que negocia com o Irã, rejeitou o documento por não obrigar Irã a interromper completamente o enriquecimento de urânio em seu território.
Em junho, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma sexta rodada de sanções contra o Irã, em ação contra o enriquecimento e a fim de obrigar o país a retomar as conversações.
O documento vazado pelo WikiLeaks traz declarações que o enviado dos EUA ouviu do Ministério de Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu.
No fim de 2009, Davutoglu disse ao funcionário do Departamento de Estado americano, Philip Gordon, que o governo iraniano estava disposto a trabalhar em um acordo de troca de combustível nuclear, mas Ahmadinejad enfrentava "grandes pressões" em casa.
Davutoglu disse ainda ao americano que a proposta era "interpretada em alguns círculos no Irã como uma derrota virtual" às pressões do Ocidente.
O telegrama diz ainda que oficiais turcos perguntaram a Ahmadinejad que "o centro do tema é psicológico e não de substância". "Ahmadinejad disse que "sim", que os iranianos concordam com a proposta, mas precisam gerenciar a percepção pública", diz o documento, acrescentando que os turcos consideram Ahmadinejad "mais flexível que outros dentro do governo iraniano".
A proposta de troca de urânio é a peça central dos esforços internacionais para controlar o programa nuclear iraniano, que o Ocidente teme ter como objetivo a produção de armas. Irã insiste ter apenas fins pacíficos.
O documento americano mostra ainda que os iranianos aparentemente confiam mais nos enviados americanos do que nos negociadores britânicos e preferem trocar combustível com os EUA do que com os russos.
O presidente Ahmadinejad deixou claro oficialmente que a interrupção total de seu programa nuclear está fora de questão e não será discutida nas reuniões. Na véspera do encontro, o Irã enviou uma clara mensagem ao 5+1 anunciando que já é autossuficiente na produção de pó de urânio, material usado como base para a obtenção de urânio enriquecido.
As potências desejam que o Irá suspenda o trabalho de enriquecimento de urânio --que pode ter uso tanto civil como militar-- em troca de benefícios diplomáticos. Folha Online