O perfil do novo chefe do Estado Maior israelense, general Benny Ganz, que tomou posse há duas semanas, indica que o país terá uma posição prudente em relação à turbulência nos países vizinhos, afirma Gabriel Sheffer, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém e consultor do governo.
"O Ministério do Exterior é menos importante nesse cálculo do que o Exército e a Inteligência. Ganz é cauteloso, moderado", diz Sheffer, que na última quinta-feira (24) reuniu-se com representantes da comunidade judaica do Rio.
Ele lembrou que a primeira opção do premiê Binyamin Netanyahu para o comando militar era o general Yoav Galant, defensor de um ataque às instalações nucleares iranianas. Mas Galant foi descartado devido à acusação de que teria se apossado de terras públicas.
Sheffer afirma que o governo de Israel também foi surpreendido pela revolta árabe, que levou à queda no Egito de um ditador considerado confiável, Hosni Mubarak. Mas, após o susto inicial, o país está em compasso de espera.
"As coisas estão vindo de baixo, e pode ser uma chance para um desenvolvimento positivo na região".
Ele diz que é possível ocorrer uma redução da coordenação entre os militares israelenses e egípcios, voltada principalmente à manutenção do isolamento da faixa de Gaza, controlada pelo grupo islâmico palestino Hamas, e a evitar a passagem de armas e possíveis terroristas pela península do Sinai.
Mas acredita que, mesmo que os comandantes mais fiéis a Mubarak sejam afastados, o vizinho preferirá manter a paz na fronteira.
O professor não crê, no entanto, que a rebelião dará impulso às negociações entre israelenses e palestinos - a ocupação de terras árabes provoca rancor das populações vizinhas em relação ao Estado judeu.
Para Sheffer, é muito difícil um acordo enquanto os palestinos estiverem divididos entre o Hamas e o Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, que controla a Cisjordânia. Do outro lado, ele não vê nos líderes israelenses disposição para arcar com o custo político de dividir Jerusalém e retirar ao menos 150 mil colonos (de um total de 400 mil) da Cisjordânia.
Sheffer diz que há divisão nos serviços de inteligência israelense sobre o estágio do programa nuclear iraniano. Mas não concorda com a tese de que um Irã com a bomba seria uma "ameaça existencial" a seu país. "Não acho que o Irã usaria a arma atômica contra Israel. Haveria uma retaliação maciça e muçulmanos também seriam afetados". Folha Online