sexta-feira, 22 de abril de 2011

Após libertação de presos, dissidentes cubanos tentam unir oposição

Por oito anos, as chamadas Damas de Branco --grupo de mulheres de presos políticos em Cuba-- se reuniram no dia 18 de cada mês para cobrar a libertação de seus maridos. No encontro da última segunda, o chá de sempre teve um significado especial.

"Foi nosso primeiro chá no qual todos os prisioneiros da Primavera Negra estavam livres. Retiramos o quadro que exibia o caso de todos eles", explica Laura Pollán, 63.

Pollán se refere ao grupo de 75 dissidentes detidos e condenados pelo regime cubano na primavera de 2003, numa onda de repressão aos opositores dos Castro. Em março passado, o governo cubano liberou os dois últimos detidos, parte de um acordo fechado com a Igreja Católica de Cuba e mediado pela Espanha. Doze deles, incluindo o marido de Pollán, Héctor Maseda, 68, se recusaram a ir para o exílio em Madri.

"Eles pensavam que, liberando todo mundo, nós iríamos desaparecer. Mas ainda há presos políticos, e os problemas de direitos humanos seguem", diz Pollán.

Ao lado dela, Maseda, que é escritor e ex-diplomata do regime cubano -servia no Brasil no golpe de 1964- diz que jamais pensou em ir para o exílio. Um de seus projetos é tentar mais uma vez unir forças nas filas anti-Castro. Ele pretende aproveitar a debilidade confessada pelo próprio regime.

"Foi [o ditador] Raúl [Castro] quem disse que é corrigir ou afundar". Mas ele admite que o caminho para um fórum oposicionista não é fácil. Entre os que se consideram liberais, como ele, há diversos partidos e ao menos duas coalizões.

"Essas reformas do governo são feitas só para ganhar tempo no poder. Eles não estão dispostos a mudar as coisas", diz Maseda sobre os últimos anúncios do governo. "Os velhos seguem no comando, e os jovens ficam à frente da economia. Aí, quando não der certo, eles já têm a quem culpar', afirma, comentando a manutenção da velha guarda na cúpula do Partido Comunista ratificada nesta semana.

Após 7 anos e 11 meses de prisão, a maior parte em regime de segurança máxima -que ele relatou na série de livros "Enterrados Vivos"-, Maseda ainda se esforça para se readaptar à liberdade. Pollán conta que registra com surpresa os novos hábitos do marido, há pouco mais de dois meses de novo em casa. Maseda era cheio de apetite, e agora come pouco. Quer ter talheres e copos separados dos demais da casa. Tranca seus objetos à chave.

"Estou conhecendo meu marido de novo. Eu não sou mais a mesma, nem ele", afirma Pollán. "Foram oito anos de sofrimento dos 20 em que nós estamos juntos. Mas tenho orgulho de ter me casado com ele. Nunca imaginei que iria abraçar uma luta política, alargar meus horizontes". FOLHA