sexta-feira, 22 de abril de 2011

Autor de livro considerado xenófobo é mantido no SPD alemão

O SPD (Partido Social-Democrata Alemão) optou por não expulsar o ex-diretor do Bundesbank Thilo Sarrazin, autor de um best-seller de caráter xenófobo com relação ao islã, após uma declaração de desculpas no qual o político diz que não pretendia discriminar ninguém nem vulnerar os princípios da formação.

A secretária-geral do SPD, Andrea Nahles, considerou boa a declaração de Sarrazin, integrante do partido há aproximadamente 40 anos, após cinco horas de reunião a portas fechadas com uma comissão de arbítrio, que deveria analisar a situação.

O ex-assessor do Bundesbank e, além disso, ex-responsável de Finanças de Berlim não se distanciou, no entanto, do conteúdo de seu livro, um recorde de vendas absoluto na Alemanha quanto a obras de não ficção na última década.

Com isso, o SPD deu por liquidado um processo de expulsão aberto nesta quinta e para o qual estavam previstas quatro semanas de sessões regulares, com Andrea no papel de acusação.

A secretária-geral do partido tinha baseado sua argumentação na acusação que Sarrazin tinha danificado a formação e vulnerado os princípios da social-democracia com seu livro.

O ex-diretor do Bundesbank já tinha superado um processo similar em 2009, em seus tempos de responsável de Finanças de Berlim, então sob a acusação de ter incorrido em racismo por declarações sobre imigrantes.

O novo processo de expulsão se abriu após publicar seu livro "A Alemanha se Desintegra", do qual foram vendidas 1,4 milhão de exemplares.

Em sua obra, Sarrazin desenha um cenário apocalíptico no qual prevê uma islamização da Alemanha no curso das próximas décadas.

"Não quero que o país dos meus netos e bisnetos seja um país majoritariamente muçulmano, no qual se fale árabe e turco predominantemente, no qual as mulheres levem o lenço islâmico e no qual a vida cotidiana esteja marcada pela ligação a oração do muezim", escreve Sarrazin.

Cerca de três milhões de pessoas de origem turca vivem na Alemanha, e seu índice de natalidade é duas vezes maior que o do restante da população.

Para o político, os trabalhadores turcos e marroquinos não contribuem para o bem-estar do país, o que por outro lado, ainda segundo ele, se pode afirmar sobre os portugueses, os espanhóis e os italianos.

"Em todos os países europeus, os imigrantes muçulmanos custam à sociedade mais do que apresentam devido a sua pouca atividade laboral e os benefícios sociais que recebem", escreveu.

"Do ponto de vista cultural e civilizador, as concepções sociais e os valores que representam são um retrocesso. Demograficamente, a fertilidade dos imigrantes muçulmanos é uma ameaça para o equilíbrio cultural de uma Europa em processo de envelhecimento", acrescentou.

Sarrazin causou muita discussão com a publicação da obra, até o ponto de no ano passado ter renunciando ao cargo de diretor do Bundesbank no meio de grandes pressões políticas, incluindo as da chanceler, Angela Merkel, e do presidente federal, Christian Wulff, ambos da CDU (União Democrata-Cristã Alemã). EFE/FOLHA