terça-feira, 31 de maio de 2011

Merkel negocia acordos comerciais e de segurança com a Índia

A chanceler alemã, Angela Merkel, negociou nesta terça-feira vias de cooperação comercial e de segurança com a Índia, em uma viagem relâmpago que se complicou depois que o Irã impediu que o avião da governante sobrevoasse seu espaço aéreo.

A Alemanha é o maior parceiro comercial europeu da Índia e um dos principais investidores no país asiático. Além disso, ambos defendem --junto ao Brasil e ao Japão-- uma reforma do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

"Passamos muito tempo provando que o sistema global deve ser atualizado para se adequar à realidade contemporânea", afirmou em entrevista coletiva conjunta o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.

Os dois chefes de Governo dedicaram também um espaço em suas conversas à luta contra o terrorismo, à recuperação econômica da zona do euro, à instabilidade no norte da África e à situação no Paquistão e no Afeganistão.

A situação no Afeganistão foi tratada com especial interesse depois do atentado que resultou na morte de dois soldados alemães e feriu o chefe de suas tropas no país, o general Markus Kneip.

Merkel não se referiu a esse atentado nem às informações da revista alemã 'Der Spiegel' sobre um suposto diálogo em território alemão entre talebans e a CIA (agência central de inteligência americana), mas, assim como a Índia, ressaltou sua aposta em uma reconciliação negociada.

"Compartilhamos objetivos no Afeganistão. O país deve desenvolver uma arquitetura de segurança. Nós acreditamos na visão do governo afegão e em seu caminho de reconciliação", afirmou a chanceler em seu discurso.

Os dois governantes assinaram quatro memorandos de entendimento --em matéria de saúde, física nuclear, formação e ciência e tecnologia--, mas, segundo especialistas indianos, são os assuntos de segurança, energia e defesa que dominam a agenda bilateral.

A Índia está planejando a compra de 126 caças de combate por um valor estimado de US$ 10 bilhões, que podem ser adquiridos do consórcio EADS --liderado pela Alemanha-- ou da companhia francesa Dassault.

"Nós achamos que temos o melhor produto. Não vamos influir no projeto, queremos que seja suave e transparente", disse Merkel em referência ao Eurofighter, o avião da EADS.

As trocas comerciais bilaterais entre a Índia e a Alemanha alcançaram US$ 21,615 bilhões no ano passado.

A Índia está tentando impulsionar a energia nuclear justo quando a Alemanha optou por renunciar a esse tipo de energia, mas Merkel aproveitou a ocasião para defender o impulso das fontes renováveis no país asiático.

"Construir uma base energética ampla e extensa é uma política na qual podemos nos ajudar, mediante as renováveis", disse Merkel pouco depois de Singh afirmar que para a Índia ainda é "inevitável" a dependência do carvão durante muitos anos.

Esta é a segunda vez que Merkel viaja à Índia como chanceler. Ela foi acompanhada dos ministros de Relações Exteriores, Defesa, Interior, Transportes, Educação e Economia, assim como de parlamentares, funcionários e empresários.

Merkel aterrissou na capital indiana na manhã desta terça-feira e tinha previsto reunir-se com Singh e com a presidente da Índia, Pratibha Patil, antes de receber o prêmio Jawaharlal Nehru ao entendimento, segundo a agenda oficial.

Sua viagem contou com um imprevisto, depois que as autoridades iranianas não permitiram que o avião da delegação sobrevoasse seu espaço aéreo, o que forçou a aeronave a sobrevoar a Turquia até receber a autorização do Irã.

A Alemanha garantiu ter solicitado todas as permissões pertinentes para realizar o voo com normalidade.

"É uma falta de respeito com a Alemanha que não estamos dispostos a tolerar", disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle.

Merkel deixará a Índia na manhã de quarta-feira, quando partirá para Cingapura.

EFE/FOLHA