"(...) No Exército, tínhamos de passar por cima de uma lagoa. Mas o sargento balançou a corda, e o negão 'catapum' na água! (...) Aí brincavam que só tirei ele d'água para fazer boca a boca", conta Bolsonaro em depoimento
para a seção Quando Eu Tinha a sua Idade,
do Folhateen.
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Naquela época, existia respeito. Os filhos chamavam o pai de senhor. A gente se borrava de medo, porque todo mundo apanhava em casa.
O irmão mais velho, o Guido, era o disciplinador, o capataz. Pegava o fio de ferro e dava lambada nos irmãos. Sem problema nenhum, ninguém sofreu bullying.
Minha mãe, basicamente, era aquela chocadeira: um filho atrás do outro. Foram três homens e três mulheres.
Conheci o Exército porque Lamarca [militar desertor antiditadura] passou pela minha cidade, atirou em oito policiais militares e feriu um civil. Ele se refugiou lá perto de Eldorado Paulista (SP).
O Exército chegou em 1970 e acampou nas margens da cidade. Aos 15, eu trabalhava tirando palmito por ali. Como conhecia a região, passava informações. Dois anos depois, me inscrevi na escola preparatória do Exército. Fui o primeiro militar da família.
Entrei na Academia Militar das Agulhas Negras em seguida. No primeiro ano, pedi desligamento. Não me adaptei. Mas meu pai não deixou. Olhou para minha cara, levantou o braço e disse: "Vou te quebrar todinho!".
Me formei em 1977. Infelizmente, não participei da luta contra a guerrilha.
Em 1964, lembro de ter ido com minha mãe na Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade. Na igreja, os padres pregavam que Deus iluminasse os militares.
Teve gente torturada, sim. Nós não negamos. Você só pode obter informações dessa maneira, é a regra do jogo.
O pessoal da esquerda fazia besteira -carro-bomba, sequestro- e depois se vitimizava. Se o cara matou colega seu, é do ser humano pegar para arrebentar. Hoje, com a cabeça que tenho, faria muito melhor. Tem que eliminar. Guerra é guerra.
Agora vocês falam de homofobia. Naquele tempo, era viadinho mesmo. Só tinha dois gays na cidade. E era para ter muito mais! Minha juventude foi ter a primeira relação com 16, 17 anos. Então, existia uma libido forte.
Você estava atrás de qualquer coisa, e não tinha mulher! Quando aparecia uma menina, era igual cadela no cio, aquele bando de cachorro atrás. Se existisse homossexualismo, acho que vários rapazes fariam. Não acredito nessa história de que a pessoa nasce com isso. A maioria é levada pelos costumes.
Nós desconfiávamos de alguns [gays] na Academia. Quando iam para o chuveiro, brincávamos: "Atenção, fulano está indo tomar banho, vamos lá também!".
Minha relação com os negros sempre foi ótima. Não vou dizer que meus melhores amigos eram negros, mas tive bons amigos negros.
E teve o caso do negão Celso. Em 1978, tinha um exercício em que passávamos por uma corda em cima de uma lagoa. Mas o sargento balançou a corda, e o recruta Celso "catapum" dentro d'água! Agarrei o negão no fundo. Tirei ele pra fora, porque estava morrendo afogado. Eu era um atleta, um cavalo.
Depois me contaram: "O soldado Celso é boiola!". Começou a brincadeira em cima de mim: só tirei o negão para fazer boca a boca. Se fosse racista, eu teria pulado?
Me perguntam: se fosse solteiro, namoraria a Taís Araújo? Lógico que sim! A gente só não gosta da branca feia, negra feia, amarela feia.
Já no meu tempo de moleque, se aceitava qualquer coisa! Se falasse fino, já estávamos prontos para o combate. Na nossa época, o contexto era outro.
Minha primeira vez foi com uns 17 anos. Hoje se chama zona. Compra-se uma ficha e fica na fila. Acontecia com a primeira mulher disponível. A grande preocupação era gonorréia, mas, se você pegava, era marcado pela galera como "machão", "garanhão". Comigo, nunca.
Comecei a namorar no final do quarto ano. Um colega falou: "Bolsonaro, tem uma igreja, tá cheio de menininha lá!". Fui lá. Acabei casando e tive três filhos com ela.
"No primeiro ano, pedi desligamento [do Exército]. Não me adaptei. Mas meu pai não deixou. Olhou para minha cara, levantou o braço e disse: "Vou te quebrar todinho!". FOLHA