Um novo tratamento, mais curto, mostrou-se seguro e eficaz para tratar pessoas que foram infectadas pela tuberculose, mas não manifestaram a doença de imediato.
Entre essas pessoas, que contraíram o bacilo de Koch (responsável pela tuberculose) mas não mostram sintomas, 10% desenvolvem a doença nos dois primeiros anos após a contaminação.
Hoje, a prevenção é feita com o uso diário de um antibiótico oral (isoniazida) por seis a nove meses. O novo tratamento, que dura só três meses, é feito com uma dose semanal desse remédio combinado a outro antibiótico, a rifapentina.
De acordo com um estudo apresentado ontem no congresso da Sociedade Americana do Tórax, em Denver (EUA), o tratamento mais curto não provocou mais reações adversas do que a terapia tradicional e conseguiu melhores resultados, reduzindo pela metade a chance de a doença aparecer.
Coordenado pelos Centros de Controle de Doenças dos EUA, o trabalho foi feito em 19 centros nos Estados Unidos, no Canadá, na Espanha e no Brasil. Participaram do estudo cerca de 8.000 pessoas, 660 do Brasil.
Durante dez anos, as pessoas contaminadas foram encaminhadas, aleatoriamente, para o tratamento diário de nove meses ou para o semanal, de três meses.
No primeiro grupo, 15 pessoas adoeceram, contra sete da terapia mais curta.
MENOS REMÉDIOS
"O objetivo era pesquisar se um tratamento mais rápido e mais fácil de ser seguido era seguro e tinha, no mínimo, o mesmo resultado da terapia convencional", diz o pneumologista Marcus Conde, da comissão de tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Conde foi o coordenador do grupo brasileiro do estudo, realizado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"No novo tratamento, você toma menos remédio e por menos tempo. É muito mais fácil a pessoa não desistir [de se tratar] no meio".
Para o pneumologista Elie Fiss, da Faculdade de Medicina do ABC, que não participou do estudo, os resultados são muito importantes para melhorar o controle da doença no país.
"Um dos grandes problemas é a baixa adesão ao tratamento. Essa nova forma de tratar economiza remédios e tempo e aumenta a aderência do paciente".
O Brasil tem, aproximadamente, 75 mil novos casos de tuberculose por ano, mas o número total de pessoas contaminadas pelo bacilo é cerca de 250 mil, segundo Marcus Conde.
"O tratamento preventivo evita o aparecimento da doença em cerca de 20 mil pessoas. Isso quer dizer que podemos reduzir em quase 30% os casos de tuberculose".
QUEM DEVE FAZER
Pessoas que tiveram contato direto com doentes devem procurar um serviço de saúde para fazer o teste que detecta o bacilo. No Brasil, o exame é feito na pele.
"A transmissão da tuberculose é feita principalmente por via aéreas. Quem fica muito próximo do doente, em lugar fechado, deve fazer o teste o mais rápido possível e se for positivo, começar o tratamento", diz Conde. FOLHA