Acusado de fraude em venda de terras pelo governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), o cacique terena Cirênio Reginaldo Francisco disse que não fez nenhuma venda e que pretende discutir o caso em uma audiência com o governador.
"Como posso ter feito uma fraude contra ele se nem sabia que a terra tinha sido vendida? Quero dizer isso a ele pessoalmente", disse o índio à Folha, por telefone.
No sábado, a Folha revelou que a compra, por Silval, de uma área de 4.235 hectares registrada em nome do cacique é investigada pelo Ministério Público Federal sob suspeita de grilagem de terras federais. O índio nega ter assinado a venda.
Em nota, Silval se disse um comprador de "boa-fé" e afirmou que foi alvo de fraude aplicada pelo índio "com a conivência do notário local".
"[Silval] Descobriu a fraude, não tomou posse do imóvel e fez o distrato que foi assinado pelo vendedor", dizia a nota, que acusava o cacique de tentar "livrar-se da responsabilidade pelo ato".
A compra foi registrada em junho de 2009. O distrato foi assinado em fevereiro deste ano. Segundo a defesa do governador, ele considerou desnecessário registrar uma ocorrência ou encaminhar o caso como denúncia ao Ministério Público.
"O governador entendeu que, fazendo o distrato, com a assinatura do índio, estava tudo resolvido. E não tomou nenhuma outra providência", disse o advogado de Silval, Francisco Faiad.
O "Diário Oficial" mostra que, meses após a descoberta da suposta fraude, o índio foi contratado como professor da rede estadual e ainda recebeu da Casa Civil a doação de uma camionete de R$ 55 mil, em nome da entidade indígena que preside.
TRISTE
O cacique Cirênio tem 46 anos e vive na reserva indígena Terena do Iriri, onde é professor de língua terena.
Segundo ele, a área comprada pelo governador foi colocada em seu nome em 2003 por orientação de servidores da Funai e do Incra.
"Dos três caciques, só eu tinha RG e então ficou no meu nome", disse.
O índio se disse desapontado com o teor da nota divulgada pelo governo. "Fiquei triste, mas não quero briga. Perto de um governador, não sou nada".
FOLHA